Homens com fetiche em bancar mulheres: quem são os polêmicos ‘Money Slaves’

Entenda como funcionam as regras (e os fetiches) dos universos Sugar e Money Slave, em que homens sentem prazer em bancar financeiramente mulheres

Jan 16, 2025 - 20:05
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Homens com fetiche em bancar mulheres: quem são os polêmicos ‘Money Slaves’

Em uma quarta-feira qualquer, enquanto se concentra em dar aula de português, a influenciadora That SP Girl percebe que precisa retocar a unha de gel. No fim do expediente, abre sua conta no Instagram e envia uma mensagem despretensiosa para um de seus “money slaves” — ou “escravos de dinheiro”, em tradução livre.

“Tem alguém para me mimar hoje?”, ela escreve. Minutos depois, recebe um PIX de 400 reais para fazer as unhas. “Por mês, eu devo fazer cerca de 5 ou 6 mil reais desse jeito. Tenho quatro fixos, um estrangeiro, inclusive”, conta em entrevista à CLAUDIA.

A influenciadora começou nesse meio há três anos, aos 22 anos. Enquanto morava nos Estados Unidos, ouviu uma amiga mencionar um aplicativo que conecta homens interessados em bancar mulheres mais jovens.

That SP Girl ficou receosa a princípio, mas a curiosidade venceu — e trouxe dinheiro. Com o tempo, decidiu criar um Instagram para atrair mais seguidores e, consequentemente, mais interessados em mimá-la. Hoje, com 30 mil seguidores, ela afirma que muitos fariam qualquer coisa para agradá-la financeiramente.

“Tenho vários escravos, cada um com um tipo de gosto, e eles sabem que não são os únicos. Por exemplo, quando faço minha unha, mando o comprovante para um e ele me reembolsa. Outro gosta de me ver com determinada roupa, então digo o que quero, e ele compra ou me manda o dinheiro”, explica.

Por curiosidade, a influenciadora perguntou para um de seus submissos o que levava ele a querer sustentá-la sem pedir nada em troca. “Basicamente é aquela coisa do homem ser o provedor, ele se sente mais másculo em saber que pode me sustentar. Eles gostam da sensação de poder, não precisa ter sexo envolvido”, pontua.

Embora possa parecer estranho, a sexóloga Camila Gentile afirma que essa prática é mais comum do que se imagina.

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“O money slave é um fetiche que envolve a dominação financeira. Geralmente, homens pagam contas e oferecem mimos a mulheres dominadoras em troca de interações que podem incluir humilhações, que vão desde xingamentos até não agradecer ou mandar fotos dos mimos que elas receberam. O sexo não está envolvido nesse tipo de fetiche necessariamente, os homens só sentem prazer em bancá-las”, esclarece a especialista.

Por se tratar de uma parafilia, muitas pessoas acreditam equivocadamente que as dominadoras ficam devendo algo aos submissos, o que não é verdade.

“Os fetiches variam. Alguns querem ser humilhados verbalmente, outros se satisfazem apenas acompanhando a rotina da dominadora, como vê-la tomar banho ou dormir. Para muitas mulheres, essa prática se tornou um meio de vida, e é algo que está crescendo cada vez mais”, destaca Camila.

“As pessoas confundem com prostituição, mas eu não sou obrigada a transar com ninguém. É tudo online”, comenta That SP Girl.

A aproximação desses homens acontece por meio de aplicativos específicos ou redes sociais
A aproximação desses homens acontece por meio de aplicativos específicos ou redes sociaisLuana Pereira/Divulgação
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Os grupos no Facebook

Boa parte do fetiche de submissão financeira acontece por meio de aplicativos, redes sociais ou até grupos no Facebook. Um dos mais famosos é o “Grupo onde homens pagam iFood para mulheres”, que reúne mais de 127 mil membros ativos.

Apesar do nome remeter ao aplicativo de delivery, os pedidos das participantes vão além: algumas solicitam ajuda para pagar boletos atrasados, financiar viagens ou até arcar com o carrinho de compras de lojas online.

Segundo Carol Ribas, estudante de psicologia e uma das criadoras do grupo, a ideia surgiu ao observar a existência de comunidades semelhantes, que costumavam ser muito nichadas e sigilosas. “Começou de forma despretensiosa, só para amigos. Mas, depois que uma publicação viralizou no X [antigo Twitter], recebemos mais de 80 mil solicitações de entrada em três dias. Foi assustador, confesso”, revela.

No grupo, a segurança das mulheres é prioridade. Os “mimos”, como são chamados os presentes ou pagamentos, podem ser resultado de brincadeiras, escolhas aleatórias ou solicitações específicas.

“Quem decide se quer algo em troca é o homem, mas não permitimos pedidos de endereço. Tudo deve ser enviado por plataformas como PicPay ou Pix, para que as participantes comprem diretamente o que desejam”, explica Carol.

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Não passar o endereço para qualquer um é a regra básica não só para praticantes do money slave, mas para qualquer interação virtual.

Eve*, produtora de eventos de 29 anos, ingressou no grupo em 2020, no auge da pandemia. Ela conta que sempre gostou de ser paparicada e ficou empolgada ao descobrir um espaço voltado para esse fetiche.

“Adoro gastar, principalmente o dinheiro dos outros. Sempre estou à procura de um bom mimador”, confessa. Os mimos variam desde pagamentos modestos até valores expressivos.

“A maior quantia que já recebi foi mil dólares, cerca de 6.400 reais”, conta Eve, que aprecia o controle que exerce sobre os chamados “submissos”. “Não é obrigação enviar nada em troca. Talvez o cara desista, mas prefiro assim. Para mim, uma troca soa como venda, e isso não me interessa”, afirma.

O que significa ser Sugar Baby?

Embora a maior quantia que Eve tenha recebido seja significativa, para a influenciadora e sugar baby Júlia Dias, de 31 anos, esse valor é apenas um “mimo modesto”.

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No último aniversário, Júlia passou uma semana com o noivo, o empresário coreano John*, de 60 anos, na suíte presidencial do luxuoso Palácio Tangará, onde a diária ultrapassa os R$ 30 mil.

Além disso, ganhou roupas de marcas como Dior e Chanel, joias da Bvlgari e outros presentes que, segundo ela, somaram cerca de 300 mil reais.

Júlia está no universo Sugar há 11 anos e já teve seis relacionamentos antes de conhecer seu atual noivo. “Sempre me interessei por homens mais velhos pela postura e responsabilidade. Quando descobri que havia um nome para isso, achei curioso”, lembra.

O relacionamento Sugar, segundo ela, é como qualquer outro, mas com expectativas claras desde o início. “Eu posso dizer o que quero: um homem que cuide de mim, goste de viajar e invista no meu futuro. Isso evita frustrações e dá clareza para ambos”, explica.

Money Slaves x relacionamento sugar: quais as diferenças?

Júlia utiliza suas redes sociais para desmistificar o universo Sugar e evitar confusões com práticas como o Money Slave, que faz parte do BDSM. “No Money Slave, o foco é a submissão financeira, sem conexão emocional ou necessidade de o parceiro ser rico. Já no relacionamento Sugar, as expectativas financeiras e sentimentais estão alinhadas desde o começo. São conceitos completamente diferentes. Em um relacionamento sugar, tem realmente uma relação, são criados laços de afeto e amor, no Money Slave é uma troca comercial, sem sentimentos envolvidos”, esclarece.

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Mesmo sendo um tema tabu, Júlia defende que esse estilo de vida lhe trouxe conquistas incríveis e que, acima de tudo, é uma escolha pessoal. “As pessoas acham que, por ser Sugar Baby, o homem tem propriedade sobre você. Mas, na prática, isso pode acontecer em qualquer relação, mesmo com mulheres independentes. Relacionamento tóxico não tem a ver com o fato de o homem ser provedor ou não”.

O outro lado

Quando o empresário Wagner Lopes, de 74 anos, se divorciou pela segunda vez, aos 66, decidiu que não queria mais viver relações desgastantes como as que havia experimentado no passado.

Curioso sobre novas possibilidades, ele começou a explorar sites voltados para o universo Sugar. No início, o conceito o fascinou, mas logo percebeu que buscava algo diferente do que esses espaços costumavam oferecer.

“No começo, foi uma experiência incrível, cheia de possibilidades para conhecer mulheres interessantes. Mas, com o tempo, percebi que a realidade das Sugar Babies era muito distante do glamour que os sites prometiam”, comenta.

Para Wagner, a figura de um Sugar Daddy deve ir além de apenas proporcionar luxo e conforto financeiro. “Um Sugar Daddy precisa ser um provedor, mas isso não se limita ao aspecto econômico. Ele deve oferecer suporte emocional, estratégico e companheirismo. Um homem maduro, com experiências de vida, pode ser uma fonte valiosa de apoio para mulheres enfrentando desafios. No entanto, a relação deve ser pautada pela cumplicidade, honestidade e reciprocidade”, defende.

Enquanto o relacionamento Sugar envolve uma certa conexão emocional e alinhamento de expectativas, o universo Money Slave está mais associado a dominação e poder – e é altamente volátil.

Apesar dos mimos e da renda considerável que recebe, That SP Girl mantém seu emprego como professora, com carteira assinada. “Adoro o estilo de vida que o universo Money Slave me proporciona e, sim, eu poderia viver apenas dessa renda. Mas sei que a beleza acaba, e preciso garantir meu sustento no futuro”, pondera.

Com um leve sorriso, ela conclui: “Se eu quiser parar com tudo hoje, consigo viver tranquilamente por uns dois anos sem fazer nada, só com o dinheiro que já ganhei.”

“Adoro gastar, principalmente o dinheiro dos outros. Sempre estou à procura de um bom mimador”
Eve* do Grupo Onde Homens Pagam iFood para Mulheres, com 127 mil membros

Existe um outro lado nessas relações
Existe um outro lado nessas relaçõesGetty Images/Reprodução

*Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados.

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