Canal de Corinto, uma obra de loucos.
O canal foi pensado na Grécia antiga, no século VII a.C., por Periandro que, perante a enormidade da tarefa, buscou outra solução para o problema - em vez de os navios terem de navegar uns 700 quilómetros para dar a volta à península de Peloponeso, e a construção de um canal no istmo ser uma impossibilidade, dados os meios técnicos da época, o governante de Corinto implementou o Diolkos, uma espécie de calçada, com cerca de 6 km, para transporte sobre carretas, puxadas quer por escravos, quer por animais, de navios de pequeno porte e de mercadorias desde o golfo Sarónico, a leste, até ao golfo de Corinto, a oeste; a viagem durava entre 3 e oito horas e o serviço era pago - a palavra Diolkos, em grego antigo, é composta por διά (através) e ὁλκός (portagem). O Diolkos foi usado desde o ano 600 a.C. a metade do século I da nossa era, não havendo quaisquer referências escritas sobre esse sistema de transporte a partir de então, talvez porque em 67 AD o imperador romano Nero ordenara o início dos trabalhos de abertura de um canal, usando os prisioneiros judeus capturados na 1.ª guerra romana-judaica; após a morte de Nero, a construção parou, não voltando a ser retomada senão no século XIX, apesar de haver quem mostrasse interesse no projecto, por exemplo o ateniense e senador romano Herodes Atticus (101-177) e os venezianos após terem conquistado o Peloponeso no século XVII. Em 1881, na onda de entusiasmo resultante da abertura do canal do Suez, no Egipto, em 1869, o governo grego emitiu uma lei autorizando a construção de um canal no istmo de Corinto - a primeira empresa a tentar o empreendimento entrou em falência e foi outra companhia, francesa como a primeira, a ganhar a concessão para construir o canal e explorá-lo durante 99 anos; em 23 de Abril de 1882, foi iniciada a obra com a presença do rei da Grécia. Ao fim de oito anos, a companhia faliu, assim como o banco que tentou angariar fundos adicionais para o projecto, que foi transferido para uma empresa grega e foi concluído a 25 de Julho de 1893, após onze anos de trabalho. Após a sua conclusão, funcionamento do canal enfrentou dificuldades operacionais e financeiras: a navegação é difícil devido à sua pouca largura, as suas altas paredes que afunilam o vento, e a diferença horária das marés nos dois golfos provocam fortes correntes no canal - por esses motivos, os armadores não estavam dispostos a arriscar os seus navios e a utilização do canal ficou muito abaixo do previsto; a perturbação causada pela Primeira Guerra Mundial também não ajudou. Por outro lado, o canal foi aberto através de rocha sedimentária com muitas falhas, numa zona sísmica activa, pelo que os deslizamentos de terra são constantes e os escombros têm de ser dragados; a a esteira dos navios que passam pelo canal escava as paredes, provocando novos deslizamentos de terras, o que obrigou à construção de muros de contenção ao longo da borda de água em mais de metade do comprimento do canal. Na Segunda Guerra Mundial, o canal foi obstruído pelas tropas alemãs em retirada, que destruíram as pontes e despejou locomotivas, destroços de pontes e outras infraestruturas, e provocaram deslizamentos de terras para dificultar as reparações, e só em Setembro de 1948 foi reaberto ao tráfego marítimo, depois de mais de 9 meses de trabalhos do Corpo de Engenheiros do exército norte-americano. Com o crescimento do tamanho dos modernos navios de carga e de passageiros, o canal é sobretudo utilizado por barcos recreativos mais pequenos e o ocasional navio de cruzeiro.O canal de Corinto tem 6.343 m de comprimento, 8 m de profundidade e 24,5 m de largura à superfície e 21,3 m no fundo; as paredes têm uma altura máxima de 90 m e uma inclinação de 80º. Os navios navegam em sistema de comboio em cada direção e os maiores são puxados por rebocadores. Esteves Oliveira

O canal foi pensado na Grécia antiga, no século VII a.C., por Periandro que, perante a enormidade da tarefa, buscou outra solução para o problema - em vez de os navios terem de navegar uns 700 quilómetros para dar a volta à península de Peloponeso, e a construção de um canal no istmo ser uma impossibilidade, dados os meios técnicos da época, o governante de Corinto implementou o Diolkos, uma espécie de calçada, com cerca de 6 km, para transporte sobre carretas, puxadas quer por escravos, quer por animais, de navios de pequeno porte e de mercadorias desde o golfo Sarónico, a leste, até ao golfo de Corinto, a oeste; a viagem durava entre 3 e oito horas e o serviço era pago - a palavra Diolkos, em grego antigo, é composta por διά (através) e ὁλκός (portagem). O Diolkos foi usado desde o ano 600 a.C. a metade do século I da nossa era, não havendo quaisquer referências escritas sobre esse sistema de transporte a partir de então, talvez porque em 67 AD o imperador romano Nero ordenara o início dos trabalhos de abertura de um canal, usando os prisioneiros judeus capturados na 1.ª guerra romana-judaica; após a morte de Nero, a construção parou, não voltando a ser retomada senão no século XIX, apesar de haver quem mostrasse interesse no projecto, por exemplo o ateniense e senador romano Herodes Atticus (101-177) e os venezianos após terem conquistado o Peloponeso no século XVII. Em 1881, na onda de entusiasmo resultante da abertura do canal do Suez, no Egipto, em 1869, o governo grego emitiu uma lei autorizando a construção de um canal no istmo de Corinto - a primeira empresa a tentar o empreendimento entrou em falência e foi outra companhia, francesa como a primeira, a ganhar a concessão para construir o canal e explorá-lo durante 99 anos; em 23 de Abril de 1882, foi iniciada a obra com a presença do rei da Grécia. Ao fim de oito anos, a companhia faliu, assim como o banco que tentou angariar fundos adicionais para o projecto, que foi transferido para uma empresa grega e foi concluído a 25 de Julho de 1893, após onze anos de trabalho. Após a sua conclusão, funcionamento do canal enfrentou dificuldades operacionais e financeiras: a navegação é difícil devido à sua pouca largura, as suas altas paredes que afunilam o vento, e a diferença horária das marés nos dois golfos provocam fortes correntes no canal - por esses motivos, os armadores não estavam dispostos a arriscar os seus navios e a utilização do canal ficou muito abaixo do previsto; a perturbação causada pela Primeira Guerra Mundial também não ajudou. Por outro lado, o canal foi aberto através de rocha sedimentária com muitas falhas, numa zona sísmica activa, pelo que os deslizamentos de terra são constantes e os escombros têm de ser dragados; a a esteira dos navios que passam pelo canal escava as paredes, provocando novos deslizamentos de terras, o que obrigou à construção de muros de contenção ao longo da borda de água em mais de metade do comprimento do canal. Na Segunda Guerra Mundial, o canal foi obstruído pelas tropas alemãs em retirada, que destruíram as pontes e despejou locomotivas, destroços de pontes e outras infraestruturas, e provocaram deslizamentos de terras para dificultar as reparações, e só em Setembro de 1948 foi reaberto ao tráfego marítimo, depois de mais de 9 meses de trabalhos do Corpo de Engenheiros do exército norte-americano. Com o crescimento do tamanho dos modernos navios de carga e de passageiros, o canal é sobretudo utilizado por barcos recreativos mais pequenos e o ocasional navio de cruzeiro.
O canal de Corinto tem 6.343 m de comprimento, 8 m de profundidade e 24,5 m de largura à superfície e 21,3 m no fundo; as paredes têm uma altura máxima de 90 m e uma inclinação de 80º. Os navios navegam em sistema de comboio em cada direção e os maiores são puxados por rebocadores.
Esteves Oliveira