Selo Scream & Yell: “Smoko – Vol. 2”

A não banda curitibana que lançou seu disco de estreia em 2024 pelo Selo Scream & Yell colhendo diversos elogios retorna com um segundo volume mais direto e consideravelmente mais guitarreiro.

May 19, 2025 - 19:55
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Selo Scream & Yell: “Smoko – Vol. 2”

introdução de Leonardo Vinhas

O primeiro disco da Smoko, lançado em 2024, foi celebrado por pessoas como Felipe Hirsch, Guilherme Weber, Giancarlo Ruffato e Alessandro Andreola. Foi, também, recebido com alegria e surpresa dentro do próprio Scream & Yell. Música tem impacto quando seu alcance é multitudinal ou quando mexe com o ouvinte? Se a alternativa escolhida é a segunda, não tem como não dizer que “Smoko”, de 2024, é uma das estreias brasileiras mais impactantes desta década – pelo menos para o microcosmo que a escutou.

Apresentar a Smoko com superlativos é tentador, mas como produtor executivo* do álbum, seria cabotino dizê-lo. O fato é que “Smoko – Vol. 2″, o novo trabalho composto e gravado pelos curitibanos Rodrigo Stradiotto, Caio Marques e Luis Henrique Pellanda, mantém o nível elevado, mas apresenta algumas características distintas do debute do trio.

*(No caso deste lançamento específico, “produtor executivo” é um título dado mais pela gentileza dos músicos do que pela realidade. Nas produções para o selo Scream & Yell, costumo ter um papel bastante ativo, que vai da direção artística a questões financeiras, passando por aspectos de distribuição, licenciamento, liberação de direitos autorais de versões e afins. Quase nada disso ocorreu neste álbum: me coube apenas auxiliar no lançamento e garantir a distribuição digital).

Enquanto o primeiro volume se permitia variar um pouco mais as linguagens, indo de baladas punitivas (“Don’t Forgive Me”) a grooves “quebrados” (“Slogan Trees”) ou à la Talking Heads (“Rip It Down”), este segundo disco assume uma vocação mais direta e consideravelmente mais guitarreira. Se estamos mesmo vendo uma volta do indie dos anos 2000 – ou seja, uma sonoridade pautada no som elétrico das seis cordas – seria preciso colocar o projeto de Stradiotto, Marques e Pellanda no rol.

“O Smoko tem como principal característica ser o que a gente está a fim de fazer. E eu estava com saudade de tocar mais guitarra e de pautar mais os arranjos nelas. No álbum anterior e nos outros projetos, eu estava muito nas teclas, nos synths e afins. E acho boa essa alternância”, diz Stradiotto. Como que reforçando o peso dessa vontade, “Smoko – Vol. 2” abre com duas faixas decididamente calcadas na guitarra: “Midnight Hits” (“Feita em menos de uma semana, em um ataque de hiperatividade”, segundo Caio) e “Underpaid Genius”. Essa última seria o single, mas a banda decidiu que não fazia sentido apará-la do álbum, pois não só os três integrantes ponderaram que lançar singles não faz sentido para uma “não-banda” do porte da Smoko, como também acharam que isolar uma faixa – qualquer uma delas – não seria representativo do álbum como um todo. Porque, apesar do que se escreveu até aqui, a Smoko continua sendo a Smoko, e não há uma estética única.

“Tem muitos instrumentos operando juntos, criando harmonias. E quando você tem essas várias linhas melódicas trabalhando em conjunto, acaba remetendo um pouco aos soundscapes, aos synths, e às ambiências em geral. Isso acaba criando um elo de conexão com as músicas do primeiro volume”, pondera Stradiotto. O músico ainda coloca que o álbum anterior eram os três descobrindo sua linguagem em comum, e esse último já foi feito a partir de um entendimento de o que era a linguagem e a sonoridade da banda – razão pela qual são 10 faixas, número maior que as sete da estreia.

Em vez de cansar, o número maior de canções trouxe uma dinâmica mais ampla e arejada. Faixas mais downtempo se alternam naturalmente entre as mais upbeat, então não causa nenhum estranhamento que um tema conduzido lentamente ao piano e cantado de forma grave como “Most of You” soe natural entre o pique de “Arm on Arm” e os ecos pós-punk de “Peacemaker”. “O disco vai de um lugar para outro de uma maneira muito fluida, nem tão devagar nem tão rapidamente. E em contraposição ao último disco, que acabava muito pra baixo (risos), esse termina com ‘Better Times’, levando o clima lá para o alto. Isso limpa o horizonte para o que pode vir daqui pra frente”, opina Stradiotto.

Pra frente? Será que vem mais coisas da Smoko por aí? Com a palavra, Caio Marques. “Fico meio estupefato de a gente ter conseguido fazer 17 canções no intervalo de um ano. E foi engraçado, porque foi uma janela de oportunidade, a gente não vinha produzindo muito antes disso. E depois delas, a gente parou totalmente, então o terceiro volume deve demorar, isso se ele vier a existir. Eu demoro quase um ano para fazer uma música, mas o Rodrigo e o Luis são muito rápidos. Então o que aconteceu até agora foi uma tempestade perfeita”.

Aceite o convite: abra a janela e veja essa tempestade acontecendo. Talvez seja até o caso de abrir a porta e sair no meio da tormenta. Você pode ser arrebatado pela sensibilidade de “Never Got the Nerve”, pelo vigor de “Rom-Com”, por alguma outra faixa, ou pelo conjunto da obra. Mas com tanta coisa a se mover e trovejar assim tão perto, não feche os acessos. Certas tempestades são belas exatamente por sua raridade.

DOWNLOAD GRATUITObaixe “Smoko Vol. 2” em MP3 320 via Mediafire aqui
OUÇA EM STREAMING EM SUA PLATAFORMA FAVORITA: tratore.ffm.to/smokovol

FICHA TÉCNICA

Smoko – Vol. 2
Todas as músicas compostas por Rodrigo Stradiotto, Caio Marques e Luis Henrique Pellanda
Vozes por Luis Pellanda
Baixo e vozes por Caio Marques
Guitarras, violões, teclas e demais instrumentos por Rodrigo Stradiotto
Arranjos por Smoko

Gravado nas respectivas casas de cada integrante
Produzido, mixado e masterizado por Rodrigo Stradiotto
Produção executiva: Leonardo Vinhas

Arte de capa e do teaser: Grazi Fonseca

Distribuição digital: Tratore
Selo Scream & Yell

CATÁLOGO COMPLETO DO SELO SCREAM & YELL

SY00 – “Canção para OAEOZ“, OAEOZ (2007) com De Inverno Records
SY01 – “O Tempo Vai Me Perdoar”, Terminal Guadalupe (2009)
SY02 – “AoVivo@Asteroid”, Walverdes (2011)
SY03 – “Ao vivo”, André Takeda (2011)
SY04 – “Projeto Visto: Brasil + Portugal” (2013)
SY05 – “EP Record Store Day”, Giancarlo Rufatto (2013)
SY06 – “Ensaio Sobre a Lealdade”, Rosablanca (2013)
SY07 – “Ainda Somos os Mesmos”, um tributo à Belchior (2014)
SY08 – “De Lá Não Ando Só”, Transmissor (2014)
SY09 – “Espelho Retrovisor”, um tributo aos Engenheiros do Hawaii (2014)
SY10 – “Projeto Visto 2: Brasil + Portugal” (2014)
SY11 – “Somos Todos Latinos” (2015)
SY12 – “Mil Tom”, um tributo a Milton Nascimento (2015)
SY13 – “Caleidoscópio”, um tributo aos Paralamas do Sucesso (2015)
SY14 – “Temperança” (2016)
SY15 – “Ainda Há Coração”, um tributo à Alceu Valença
SY16 – “Brasil También Es Latino” (2016)
SY17 – “Faixa Seis” (2017)
SY18 – “Sem Palavras I” (2017)
SY19 – “Dois Lados”, um tributo ao Skank (2017)
SY20 – “As Lembranças São Escolhas”, canções de Dary Jr. (2017)
SY21 – “O Velho Arsenal dos Lacraus”, Os Lacraus (2018)
SY22 – “Um Grito que se Espalha”, um tributo à Walter Franco (2018)
SY23 – “A Comida”, Os Cleggs (2018)
SY24 – “Conexão Latina” (2018)
SY25 – “Omnia”, Borealis (2019)
SY26 – “Sem Palavras II” (2019)
SY27 – “¡Estamos! – Canções da Quarentena” (2020)
SY28 – “Emerge el Zombie – En Vivo”, El Zombie (2020)
SY29 – “Canções de Inverno – Um songbook de Ivan Santos & Martinuci” (2020)
SY30 – “SIEMENSDREAM”, Borealis (2020)
SY31 – “Autoramas & The Tormentos EP”, Autoramas & The Tormentos (2020)
SY32 – “O Ponto Firme”, M.Takara (2021)
SY33 – “Sob a Influencia”, tributo a Tom Bloch (2021)
SY34 – “Pra Toda Superquadra Ouvir”, Beto Só (2021)
SY35 – “Bajo Un Cielo Uruguayo” (2021) com  Little Butterfly Records
SY36 – “REWIND” (2021), Borealis
SY37 – “Pomar” (2021), Vivian Benford
SY38 – “Vizinhos” (2021), Catalina Ávila
SY39 – “Conexão Latina II” (2021), Vários artistas
SY40 – “Unan Todo” (2022), Vários artistas
SY41 – “Morphé” (2023), Rodrigo Stradiotto
SY42 – “Paranoar” (2023), YPU (com Monstro Discos)
SY43 – “NO GOD UP HERE” (2023), Borealis
SY44 – “Extras de “Vou Tirar Você Desse Lugar”, Cidadão Instigado & Plástico Lunar (2024) – Com Allegro Discos
SY45 – “Smoko” (2024), Smoko
SY46 – “Trilhas Sonoras para Corações Solitários” (2024), Hotel Avenida
SY47 – “El Retorno de Senicio” (2025), Duna Riders
SY48 – “Smoko Vol. 2” (2025), Smoko

Discos liberados para download gratuito no Scream & Yell:
01 – “Natália Matos”, Natália Matos (2014)
02 –  “Gito”, Antônio Novaes (2015)
03 – “Curvas, Lados, Linhas Tortas, Sujas e Discretas”, de Leonardo Marques (2015)
04 – “Inverno”, de Marcelo Perdido (2015)
05 – “Primavera Punk”, de Gustavo Kaly e os Hóspedes do Chelsea feat. Frank Jorge (2016)
06 – “Consertos em Geral”, de Manoel Magalhães (2018)
07 – “Toda Forma de Adeus”, Jotadablio (2023)