Selo Scream & Yell: “Smoko – Vol. 2”
A não banda curitibana que lançou seu disco de estreia em 2024 pelo Selo Scream & Yell colhendo diversos elogios retorna com um segundo volume mais direto e consideravelmente mais guitarreiro.

introdução de Leonardo Vinhas
O primeiro disco da Smoko, lançado em 2024, foi celebrado por pessoas como Felipe Hirsch, Guilherme Weber, Giancarlo Ruffato e Alessandro Andreola. Foi, também, recebido com alegria e surpresa dentro do próprio Scream & Yell. Música tem impacto quando seu alcance é multitudinal ou quando mexe com o ouvinte? Se a alternativa escolhida é a segunda, não tem como não dizer que “Smoko”, de 2024, é uma das estreias brasileiras mais impactantes desta década – pelo menos para o microcosmo que a escutou.
Apresentar a Smoko com superlativos é tentador, mas como produtor executivo* do álbum, seria cabotino dizê-lo. O fato é que “Smoko – Vol. 2″, o novo trabalho composto e gravado pelos curitibanos Rodrigo Stradiotto, Caio Marques e Luis Henrique Pellanda, mantém o nível elevado, mas apresenta algumas características distintas do debute do trio.
*(No caso deste lançamento específico, “produtor executivo” é um título dado mais pela gentileza dos músicos do que pela realidade. Nas produções para o selo Scream & Yell, costumo ter um papel bastante ativo, que vai da direção artística a questões financeiras, passando por aspectos de distribuição, licenciamento, liberação de direitos autorais de versões e afins. Quase nada disso ocorreu neste álbum: me coube apenas auxiliar no lançamento e garantir a distribuição digital).
Enquanto o primeiro volume se permitia variar um pouco mais as linguagens, indo de baladas punitivas (“Don’t Forgive Me”) a grooves “quebrados” (“Slogan Trees”) ou à la Talking Heads (“Rip It Down”), este segundo disco assume uma vocação mais direta e consideravelmente mais guitarreira. Se estamos mesmo vendo uma volta do indie dos anos 2000 – ou seja, uma sonoridade pautada no som elétrico das seis cordas – seria preciso colocar o projeto de Stradiotto, Marques e Pellanda no rol.
“O Smoko tem como principal característica ser o que a gente está a fim de fazer. E eu estava com saudade de tocar mais guitarra e de pautar mais os arranjos nelas. No álbum anterior e nos outros projetos, eu estava muito nas teclas, nos synths e afins. E acho boa essa alternância”, diz Stradiotto. Como que reforçando o peso dessa vontade, “Smoko – Vol. 2” abre com duas faixas decididamente calcadas na guitarra: “Midnight Hits” (“Feita em menos de uma semana, em um ataque de hiperatividade”, segundo Caio) e “Underpaid Genius”. Essa última seria o single, mas a banda decidiu que não fazia sentido apará-la do álbum, pois não só os três integrantes ponderaram que lançar singles não faz sentido para uma “não-banda” do porte da Smoko, como também acharam que isolar uma faixa – qualquer uma delas – não seria representativo do álbum como um todo. Porque, apesar do que se escreveu até aqui, a Smoko continua sendo a Smoko, e não há uma estética única.
“Tem muitos instrumentos operando juntos, criando harmonias. E quando você tem essas várias linhas melódicas trabalhando em conjunto, acaba remetendo um pouco aos soundscapes, aos synths, e às ambiências em geral. Isso acaba criando um elo de conexão com as músicas do primeiro volume”, pondera Stradiotto. O músico ainda coloca que o álbum anterior eram os três descobrindo sua linguagem em comum, e esse último já foi feito a partir de um entendimento de o que era a linguagem e a sonoridade da banda – razão pela qual são 10 faixas, número maior que as sete da estreia.
Em vez de cansar, o número maior de canções trouxe uma dinâmica mais ampla e arejada. Faixas mais downtempo se alternam naturalmente entre as mais upbeat, então não causa nenhum estranhamento que um tema conduzido lentamente ao piano e cantado de forma grave como “Most of You” soe natural entre o pique de “Arm on Arm” e os ecos pós-punk de “Peacemaker”. “O disco vai de um lugar para outro de uma maneira muito fluida, nem tão devagar nem tão rapidamente. E em contraposição ao último disco, que acabava muito pra baixo (risos), esse termina com ‘Better Times’, levando o clima lá para o alto. Isso limpa o horizonte para o que pode vir daqui pra frente”, opina Stradiotto.
Pra frente? Será que vem mais coisas da Smoko por aí? Com a palavra, Caio Marques. “Fico meio estupefato de a gente ter conseguido fazer 17 canções no intervalo de um ano. E foi engraçado, porque foi uma janela de oportunidade, a gente não vinha produzindo muito antes disso. E depois delas, a gente parou totalmente, então o terceiro volume deve demorar, isso se ele vier a existir. Eu demoro quase um ano para fazer uma música, mas o Rodrigo e o Luis são muito rápidos. Então o que aconteceu até agora foi uma tempestade perfeita”.
Aceite o convite: abra a janela e veja essa tempestade acontecendo. Talvez seja até o caso de abrir a porta e sair no meio da tormenta. Você pode ser arrebatado pela sensibilidade de “Never Got the Nerve”, pelo vigor de “Rom-Com”, por alguma outra faixa, ou pelo conjunto da obra. Mas com tanta coisa a se mover e trovejar assim tão perto, não feche os acessos. Certas tempestades são belas exatamente por sua raridade.
DOWNLOAD GRATUITO: baixe “Smoko Vol. 2” em MP3 320 via Mediafire aqui
OUÇA EM STREAMING EM SUA PLATAFORMA FAVORITA: tratore.ffm.to/smokovol
FICHA TÉCNICA
Smoko – Vol. 2
Todas as músicas compostas por Rodrigo Stradiotto, Caio Marques e Luis Henrique Pellanda
Vozes por Luis Pellanda
Baixo e vozes por Caio Marques
Guitarras, violões, teclas e demais instrumentos por Rodrigo Stradiotto
Arranjos por Smoko
Gravado nas respectivas casas de cada integrante
Produzido, mixado e masterizado por Rodrigo Stradiotto
Produção executiva: Leonardo Vinhas
Arte de capa e do teaser: Grazi Fonseca
Distribuição digital: Tratore
Selo Scream & Yell
CATÁLOGO COMPLETO DO SELO SCREAM & YELL
SY00 – “Canção para OAEOZ“, OAEOZ (2007) com De Inverno Records
SY01 – “O Tempo Vai Me Perdoar”, Terminal Guadalupe (2009)
SY02 – “AoVivo@Asteroid”, Walverdes (2011)
SY03 – “Ao vivo”, André Takeda (2011)
SY04 – “Projeto Visto: Brasil + Portugal” (2013)
SY05 – “EP Record Store Day”, Giancarlo Rufatto (2013)
SY06 – “Ensaio Sobre a Lealdade”, Rosablanca (2013)
SY07 – “Ainda Somos os Mesmos”, um tributo à Belchior (2014)
SY08 – “De Lá Não Ando Só”, Transmissor (2014)
SY09 – “Espelho Retrovisor”, um tributo aos Engenheiros do Hawaii (2014)
SY10 – “Projeto Visto 2: Brasil + Portugal” (2014)
SY11 – “Somos Todos Latinos” (2015)
SY12 – “Mil Tom”, um tributo a Milton Nascimento (2015)
SY13 – “Caleidoscópio”, um tributo aos Paralamas do Sucesso (2015)
SY14 – “Temperança” (2016)
SY15 – “Ainda Há Coração”, um tributo à Alceu Valença
SY16 – “Brasil También Es Latino” (2016)
SY17 – “Faixa Seis” (2017)
SY18 – “Sem Palavras I” (2017)
SY19 – “Dois Lados”, um tributo ao Skank (2017)
SY20 – “As Lembranças São Escolhas”, canções de Dary Jr. (2017)
SY21 – “O Velho Arsenal dos Lacraus”, Os Lacraus (2018)
SY22 – “Um Grito que se Espalha”, um tributo à Walter Franco (2018)
SY23 – “A Comida”, Os Cleggs (2018)
SY24 – “Conexão Latina” (2018)
SY25 – “Omnia”, Borealis (2019)
SY26 – “Sem Palavras II” (2019)
SY27 – “¡Estamos! – Canções da Quarentena” (2020)
SY28 – “Emerge el Zombie – En Vivo”, El Zombie (2020)
SY29 – “Canções de Inverno – Um songbook de Ivan Santos & Martinuci” (2020)
SY30 – “SIEMENSDREAM”, Borealis (2020)
SY31 – “Autoramas & The Tormentos EP”, Autoramas & The Tormentos (2020)
SY32 – “O Ponto Firme”, M.Takara (2021)
SY33 – “Sob a Influencia”, tributo a Tom Bloch (2021)
SY34 – “Pra Toda Superquadra Ouvir”, Beto Só (2021)
SY35 – “Bajo Un Cielo Uruguayo” (2021) com Little Butterfly Records
SY36 – “REWIND” (2021), Borealis
SY37 – “Pomar” (2021), Vivian Benford
SY38 – “Vizinhos” (2021), Catalina Ávila
SY39 – “Conexão Latina II” (2021), Vários artistas
SY40 – “Unan Todo” (2022), Vários artistas
SY41 – “Morphé” (2023), Rodrigo Stradiotto
SY42 – “Paranoar” (2023), YPU (com Monstro Discos)
SY43 – “NO GOD UP HERE” (2023), Borealis
SY44 – “Extras de “Vou Tirar Você Desse Lugar”, Cidadão Instigado & Plástico Lunar (2024) – Com Allegro Discos
SY45 – “Smoko” (2024), Smoko
SY46 – “Trilhas Sonoras para Corações Solitários” (2024), Hotel Avenida
SY47 – “El Retorno de Senicio” (2025), Duna Riders
SY48 – “Smoko Vol. 2” (2025), Smoko
Discos liberados para download gratuito no Scream & Yell:
01 – “Natália Matos”, Natália Matos (2014)
02 – “Gito”, Antônio Novaes (2015)
03 – “Curvas, Lados, Linhas Tortas, Sujas e Discretas”, de Leonardo Marques (2015)
04 – “Inverno”, de Marcelo Perdido (2015)
05 – “Primavera Punk”, de Gustavo Kaly e os Hóspedes do Chelsea feat. Frank Jorge (2016)
06 – “Consertos em Geral”, de Manoel Magalhães (2018)
07 – “Toda Forma de Adeus”, Jotadablio (2023)