Entrevista: Sexteto curitibano de ska punk Abraskadabra fala sobre “Pack Your Bags”, seu quarto disco, gravado nos EUA
O disco foi gravado na Flórida com produção do brasileiro Roger Lima, baixista e co-vocalista do Less Than Jake, banda de ska punk norte-americana com mais de 30 anos de história.

entrevista de Bruno Lisboa
Com mais de 20 anos de estrada, o sexteto curitibano Abraskadabra chega ao seu quarto álbum de estúdio, “Pack Your Bags” (2025), acumulando conquistas: o disco foi gravado em Gainesville, na Flórida, com produção do brasileiro Roger Lima, baixista e co-vocalista do Less Than Jake, banda de ska punk norte-americana com mais de 30 anos de história. E a turnê de divulgação teve início no Reino Unido, mais precisamente no Manchester Punk Festival, que rolou em abril.
Outro destaque da nova fase do Abraskadabra é a parceria com o selo Repetente Records, de Badauí e Phil (ambos do CPM 22), responsável pelo lançamento de “Pack Your Bags”: “Eles são caras que entendem a correria de banda, surgiram do independente e vivem isso há anos. Então têm uma visão bem próxima da nossa. Estar no selo com gente que a gente cresceu ouvindo e respeita é uma responsa boa”, comenta o baterista Eduardo Maka em conversa por e-mail.
Para Maka, o novo disco é o “mais honesto e visceral” da banda, que ainda conta com Thiago “Trosso” (sax e vocal), Du (guitarra e vocal), JP Branco (trombone), Augusto “Mamão” (trombone) e Felipe “Pêra” (baixo). O baterista ainda fala sobre o processo criativo do disco, a experiência de trabalhar com Roger Lima, o amadurecimento musical da banda, longevidade artística, a parceria com o selo Repetente Records, a experiência de realizar turnês internacionais, planos futuros e muito mais. Confira!
Começando pelo título do disco: “Pack Your Bags” soa quase como um convite. Que tipo de viagem vocês estão propondo com esse álbum?
O título segue a mesma ideia os últimos dois álbuns. Em 2018, com o “Welcome”, estávamos “recebendo” as pessoas na nossa “casa”. Em 2021 lançamos “Make Yourself at Home”, (um convite) para as pessoas conhecerem o nosso som e se sentirem confortáveis e em casa. Com “Pack your Bags” estamos convidando os ouvintes a arrumar as malas e partirem em uma aventura com a gente.
Muitas das músicas foram compostas em apenas seis meses, certo? Como foi esse processo criativo? Teve alguma música que nasceu de última hora e surpreendeu vocês?
A partir do momento que a gente soube que ia viajar pra gravar foi um período curto pra compor mesmo. O Trosso ((sax, teclado e vocal) já tinha muita música pronta ou muito bem encaminhada, faltava o Du (guitarra e vocal) correr atrás e uma das músicas que foi criada de última hora foi “No Strings Attached”, que acabou virando um dos singles. Acho que ela foi feita umas duas semanas antes de a gente viajar e fechamos a demo dela uns dias antes de embarcar. Foi o próprio Roger que selou o destino dela e acabamos deixando uma outra música que iria entrar de fora.
Falando no Roger Lima, um nome forte dentro da cena ska-punk, como foi trabalhar com ele em Gainesville? O que ele trouxe de mais valioso para o som da banda?
Foi sensacional! A gente já havia tentado gravar o “Make Yourself at Home” com ele, mas a pandemia bateu. Ficamos muito contentes de ter dado certo com o “Pack Your Bags”. Como foi o nosso primeiro álbum com coprodução, a gente estava bem animado e ansioso pra ver como seria essa experiencia. Ele já estava bem ligado nas músicas e então estávamos alinhados em qual caminho tomar. Acho que o que ele trouxe de mais valioso foi a “crueza” do álbum, sem dobrar praticamente nada, sem exagerar nas linhas de sopros, tentando deixar o mais fiel possível ao som que a gente faria ao vivo e acho que isso foi o que a gente mais gostou de ter feito e foi a lição mais valiosa pra nós.
O que vocês enxergam como grande diferencial de “Pack Your Bags” em relação aos álbuns anteriores?
Acho que é o álbum mais honesto e visceral que já fizemos, em termos de composição e produção também.
Em relação às letras, o álbum toca em temas bem pessoais e universais como luto, ansiedade, amizade e arrependimentos. Esse tom mais vulnerável foi algo intencional desde o início?
É o reflexo do que a gente viveu em um passado breve e tem vivido no momento. Foi inevitável falar sobre esses temas. Acho que a diferença foi a coragem de falar diretamente sobre esses assuntos, essa foi a tônica de qualquer letra ou tema que a gente queria falar: ser claro e direto, sem se esconder.
Thiago Trosso e Du formam a espinha dorsal das composições. Como se dividem as ideias e responsabilidades?
Apesar da contribuição de todos os membros, desde o início da banda essa foi a combinação mais ativa nas composições. A evolução foi se evidenciado a cada álbum principalmente pela confiança e colaboração na parte das letras, nas quais nos desafiamos cada vez mais e tentamos extrair um do outro as ideias mais sinceras, impactantes e vulneráveis possíveis. Criou-se uma codependência e competitividade saudável que nos levou a escrever nossas melhores canções até hoje e estamos ansiosos pra ver o que o próximo álbum vai trazer.
O ska-punk sempre teve essa capacidade de ser uma simbiose entre melodias assobiáveis/dançantes com letras que abordam temas profundos. Como vocês equilibram essa dualidade nas músicas de “Pack Your Bags”?
Acho que essa é a beleza da música. Você pode fazer uma melodia super triste com uma letra super cômica e vice-versa. O ska-punk não foge disso, as vezes intencionalmente as vezes sem querer mesmo.
Com mais de 20 anos de estrada, vocês se sentem mais maduros ou mais desafiados hoje em dia como banda?
A gente se sente supermotivado! Enquanto a gente tiver ideias e seguir criando a gente vai seguir tocando!
O disco saiu pela Repetente Records, selo do Badauí e Phil do CPM 22. Como foi essa aproximação com o selo e o que ele representa para vocês?
Cara, foi muito massa! A gente sempre curtiu o trampo do Badauí e do Phil, então quando surgiu a ideia de lançar o disco com a Repetente, abraçamos a oportunidade de cara. Eles são caras que entendem a correria de banda, surgiram do independente e vivem isso há anos. Então têm uma visão bem próxima da nossa. Estar no selo com gente que a gente cresceu ouvindo e respeita é uma responsa boa e dá aquele gás a mais pra continuar!
A turnê de divulgação já começou pelo Reino Unido. Como tem sido a recepção do público na gringa à esse novo trabalho?
Foi animal! A galera do Reino Unido foi muito receptiva, e os shows foram muito bons. Já fizemos turnê lá duas vezes e tocamos novamente com bandas muito fodas (Random Hand e Popes Of Chillitown). Tocamos no Manchester Punk Festival e foi uma das experiências mais sinistras em cima de um palco. Teve mosh, teve pogo, teve gente cantando refrão de primeira. A experiencia foi muito massa, e isso só confirma pra gente que esse disco está reverberando do jeito certo, mesmo do outro lado do oceano!
O que vocês podem adiantar sobre os shows por aqui?
Estamos com um gás sinistro pra tocar no Brasil. Depois dos shows no Reino Unido, estamos com sangue nos olhos pra subir no palco. Temos várias datas já confirmadas e estamos preparando um setlist cheio de músicas novas sem deixar de lado as músicas que sempre são o ponto alto do show! Com as músicas desse novo álbum, estamos sentindo que o show só cresce do início ao fim. Vai ser foda!
Depois de tudo isso, o que mais está no roteiro da Abraskadabra pro futuro?
Foco total na divulgação do “Pack Your Bags” e quando a gente achar que está na hora de músicas novas, gravar o quanto antes e partir pra estrada!
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br.