HQ: “RASL”, de Jeff Smith, ganha edição nacional pela Todavia Livros
Num olhar sagaz para o poder da ciência – poder tanto de criação, quanto de destruição – e para a obra e as teorias de Tesla, Jeff Smith cria uma HQ que é tanto densa, quanto deliciosamente acessível

texto de Gabriel Pinheiro
Você sabia que uma das primeiras radiografias do mundo foi realizada em um escritor? Sim, a radiografia da cabeça do norte-americano Mark Twain. Tudo isso antes mesmo dos raios-x serem descobertos. O responsável? O cientista e inventor Nikola Tesla. De um dos maiores nomes da ciência mundial a gênio incompreendido, a vida de Nikola oscilou entre altos e baixos, numa jornada fascinante.
Tesla e suas teorias são uma espécie de espinha dorsal de “RASL”, quadrinho de Jeff Smith, autor da série “Bone”. “RASL” também foi lançada originalmente no formato série: Smith a publicou em 15 edições em preto e branco entre 2008 e 2012; em 2013, “RASL” foi compilada em um volume único colorido, que agora ganha edição no Brasil via Todavia Livros, com tradução de Érico Assis.
RASL é um ladrão de obras de arte que sempre consegue fugir sem deixar rastros após suas investidas. Seu último alvo foi um Picasso – “Velho guitarrista cego” – roubado de um apartamento localizado no alto de um prédio. Com o quadro em mãos, RASL desaparece numa outra dimensão. Uma curiosa parafernália permite que ele viaje entre diferentes dimensões. Mundos aparentemente iguais, que existem simultaneamente, mas com sutis diferenças – como, por exemplo, a inexistência, em um deles, de um certo Bob Dylan, substituído por um tal Robert Zimmerman.
Inspirado na literatura noir e de ficção científica, “RASL” é um quebra-cabeça intrincado. De início, pouco sabemos sobre seu protagonista. Apenas um ladrão sofisticado? Na verdade, muito mais que isso. Saltando entre diferentes dimensões, RASL é perseguido por pessoas que querem algo mais valioso do que as obras de arte: os diários perdidos de Nikolas Tesla.
Num olhar sagaz para o poder da ciência – poder tanto de criação, quanto de destruição – e para a obra e as teorias de Tesla, Jeff Smith cria uma HQ que é tanto densa, quanto deliciosamente acessível, num interessante equilíbrio narrativo. De cores vibrantes e uma arte vertiginosa, “RASL” vai da complexidade das teorias quânticas à ancestralidade da mitologia dos povos originários norte-americanos num virar de páginas, em uma trama que, ao buscar respostas, encontra cada vez mais perguntas.
– Gabriel Pinheiro é jornalista. Escreve sobre suas leituras também no Instagram: @tgpgabriel.