Momentos Inesquecíveis de Maria Grazia Chiuri na Dior

Maria Grazia Chiuri se despede após 9 anos à frente da direção criativa da Dior. A primeira mulher a assumir o cargo, anteriormente ocupado por grandes couturiers, inclusive pelo próprio Christian Dior. À frente da maison, Maria Grazia sempre trouxe contextos políticos, com pautas emergentes e colaborações artísticas. Ela usou da moda e da sua […] O post Momentos Inesquecíveis de Maria Grazia Chiuri na Dior apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

May 30, 2025 - 01:55
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Momentos Inesquecíveis de Maria Grazia Chiuri na Dior

Foto: Reprodução/ Instagram/ @mariagraziachiuri

Maria Grazia Chiuri se despede após 9 anos à frente da direção criativa da Dior. A primeira mulher a assumir o cargo, anteriormente ocupado por grandes couturiers, inclusive pelo próprio Christian Dior. À frente da maison, Maria Grazia sempre trouxe contextos políticos, com pautas emergentes e colaborações artísticas. Ela usou da moda e da sua arte para transmitir mensagens poderosas através das roupas.

Além disso, Maria Grazia sempre incorporou poesia e um lado lúdico em sua moda — ora místico, ora circense, mas nunca monótono. Dona de uma mente riquíssima culturalmente, e após quase uma década trazendo à vida toda a potência Dior, ela encerra seu legado de forma honrosa e tão incrível quanto a sua própria carreira.

Foto: Reprodução WWD

Seu último desfile? Certo: italiana, romana, a escolha foi feita a dedo — Roma.
Além de realizar um desfile icônico, a Dior (junto com a mente brilhante de Maria Grazia) disponibilizou lugares secretos espalhados pela cidade — os quais a diretora criativa tem como seus favoritos — para que os convidados explorassem Roma de forma peculiar, apreciando, neste berço cultural, um pouco da imaginação e da mente de Maria Grazia.

Podemos afirmar que seu trabalho foi impecável. E seu legado, jamais será esquecido.
Com isso, relembre 10 momentos inesquecíveis de Maria Grazia Chiuri na Dior.

E assim, como quem borda silêncios em tule ou planta ideias sob camadas de seda, Maria Grazia Chiuri parte deixando na história da moda um rastro de beleza pensante. Sua Dior não apenas vestiu corpos — vestiu ideais, deu forma ao invisível e voz às mulheres. E como toda grande artista, ela não se despede: apenas ecoa, eternamente, onde houver coragem, arte e feminilidade.

Foto: Reprodução WWD

 

1. O Desfile “We Should All Be Feminists” coleção primavera verão 2018 – A Revolução Começa com uma T-shirt
Em pouco tempo na Dior, Maria Grazia Chiuri marcou a história ao estampar na passarela uma frase emblemática: “We Should All Be Feminists”. A camiseta, inspirada no ensaio da escritora Chimamanda Ngozi Adichie, não era apenas uma peça de roupa — era um manifesto. Pela primeira vez, a maison francesa assumia um posicionamento tão claro e direto sobre questões sociais contemporâneas.

Chiuri deixou para trás a figura da madame jolie com seus terninhos pastéis e saltos agulha, e trouxe uma Dior jovem, ativa, com botas de tela, jeans patchwork dos anos 70, macacões de couro e vestidos transparentes com lingeries à mostra. Ela entendeu e respeitou o zeitgeist: mulheres reais querem beleza, mas também propósito. E no seu gesto mais simbólico, distribuiu o texto de Linda Nochlin, Why Have There Been No Great Women Artists?, colocando o feminismo intelectual na primeira fila do desfile.

Foto: Reprodução WWD

2. A Dança como Manifesto coleção primavera verão 2019 – Dior Spring 2019 e o Corpo em Movimento
Outro momento arrebatador foi o desfile de primavera de 2019, onde uniu moda e dança contemporânea em um espetáculo que ia além da estética. Com coreografia de Sharon Eyal, a apresentação foi uma ode à liberdade do corpo — e, portanto, à liberdade da mulher.

Ela abandonou os corsets, os arames, as estruturas rígidas da moda tradicional e introduziu tecidos fluídos como o jersey, o macramê em tule, e o drapeado em vestidos que remetiam à estética de Madame Grès, reinterpretados para o agora. A inspiração? Mulheres como Martha Graham, Isadora Duncan e a própria essência do movimento como forma de expressão feminina.

A escolha de abrir o desfile com o vestido preto longo usado por Selena Forrest — uma fusão entre o clássico e o contemporâneo — simbolizava uma nova Dior: mais orgânica e profundamente ligada à identidade.

Foto: Reprodução WWD

3. O Circo como Metáfora coleção primavera verão 2019 – Dior Haute Couture Spring
Ao explorar o universo do circo para sua coleção de alta-costura, Maria Grazia Chiuri reinterpretou um tema clássico da moda como uma poderosa metáfora de performance, liberdade e empoderamento. Inspirada por Jean Cocteau, Pablo Picasso, Cindy Sherman e pela icônica imagem de Dovima com elefantes de Richard Avedon, a diretora criativa mergulhou em arquivos e descobriu trajes ricamente bordados por Gérard Vicaire — “realmente couture!”, como ela mesma disse.

Mas o clímax do desfile foi a presença da trupe circense feminina. Mulheres se equilibrando nos ombros de outras mulheres, ocupando o picadeiro do Musée Rodin com graça, força e sororidade: uma performance que dizia, sem palavras, “She ain’t heavy—she’s my sister”.

A coleção, ainda que repleta de tule, bordados e romantismo, encontrou seu coração nas peças de alfaiataria em preto e branco — casacos longos, tailleurs com recortes militares e ternos em cetim de marfim — encarnando o poder das verdadeiras mestres de cerimônia. Assim, ela reafirmava seu compromisso: moda é espetáculo, sim, mas também é discurso e identidade.

 

Foto: Reprodução WWD

4. Dior em Miniatura Alta Costura Outono 2020 – A Reinvenção da Alta-Costura durante a Pandemia
Com o confinamento global,  não cedeu à ausência da passarela. Transformou limitação em poesia ao criar Le Mythe Dior, curta-metragem dirigido por Matteo Garrone. Inspirada no Théâtre de la Mode — projeto francês de 1945 em que roupas em miniatura foram usadas para reacender a esperança pós-guerra — ela vestiu manequins com vestidos minuciosos, costurados por artesãos trabalhando remotamente.

Cada look era uma fábula de tecidos, bordados e memória, entregue aos clientes em baús como tesouros portáteis. A narrativa misturava ninfas, esculturas e moda como mitologia viva. Entre as musas da temporada, estavam Lee Miller, Dora Maar e Jacqueline Lamba — mulheres cujos nomes muitas vezes ofuscam suas obras.

Com essa Dior em escala reduzida, Chiuri reafirmou: mesmo em silêncio e em reclusão, a moda pode ser poderosa, poética e comunitária.

Foto: Divulgação

5. Tarot e Destino  Alta Costura primavera verão 2021 – Uma Jornada Interior em Tempos de Incerteza
Em um momento de isolamento e introspecção global, Maria Grazia recorreu ao tarot para criar sua coleção de alta-costura. Novamente com Matteo Garrone, apresentou um filme sobre uma mulher que percorre um castelo labiríntico, encontrando arquétipos como A Morte, A Justiça, A Temperança — cada um, um espelho de si mesma.

A inspiração vinha também do próprio Christian Dior, que, aflito pelo desaparecimento de sua irmã Catherine Dior na Resistência Francesa, buscou consolo nas cartas de tarot. Chiuri resgatou essa memória e a reconectou com suas raízes italianas, inspirando-se no baralho Visconti-Sforza do século XV.

Entre os vestidos bordados, corsets renascentistas e silhuetas plissadas, surgia o verdadeiro encantamento: o de uma moda que nos ajuda a enfrentar o desconhecido com beleza, simbologia e coragem.

Foto: Reprodução WWD

6. A Árvore da Vida Alta Costura Outono 2022– Bordando Esperança na Alta-Costura
Ao descobrir o trabalho da artista ucraniana Olesia Trofymenko,  encontrou no símbolo da Árvore da Vida o tema central de sua coleção. Em meio a uma guerra devastadora na Ucrânia, a designer trouxe à passarela bordados inspirados no folclore local, mas com ecos universais: o ciclo da vida, a força da terra, a memória ancestral.

No jardim do Musée Rodin, sob uma tenda simbólica, cada peça desfilada era um elo entre tradição e futuro, entre arte e resistência. A Dior se tornava, mais uma vez, espaço de reflexão cultural e ponte entre mundos.

Foto: Reprodução WWD

7. “Je Ne Regrette Rien” outono 2023– A Elegância Rebelde da Mulher Parisiense

Na coleção de outono ready-to-wear, Maria Grazia Chiuri vestiu a Dior de preto — literal e simbolicamente. Em um momento de incertezas globais e anseio por autenticidade, ela apresentou um desfile austero, sexy e carregado de significado, ambientado na Galerie Courbe do Palais de Tokyo, em Paris. O espaço, com sua arquitetura brutalista, curvas longas de concreto nu e iluminação dramática, serviu como palco para uma encenação silenciosa sobre força, identidade e memória.

Mas foi o cenário monumental, assinado pela artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos, que transformou o ambiente em algo quase mítico. Com 30 anos de carreira e conhecida por fundir tradição artesanal com escala escultural, Vasconcelos criou uma instalação que parecia proteger e vigiar o desfile como uma presença feminina arquetípica. Suas esculturas têxteis — feitas de paetês, tramas em crochê, tricô, macramês e tecidos que evocavam motivos florais de maneira abstrata — tomavam o espaço como se fossem organismos vivos, suspensos no tempo.

Inspiradas nas Valquírias, figuras mitológicas escandinavas enviadas por Odin para escolher os guerreiros mais corajosos, as obras de Vasconcelos assumiam forma de grandes estruturas tentaculares, com múltiplos braços que pareciam abraçar o espaço e quem o ocupava. Eram guardiãs têxteis — suaves na matéria, mas colossais no impacto — que reforçavam o espírito de sororidade, proteção e poder feminino que atravessa toda a obra de Chiuri na Dior.

As modelos surgiam como essas guerreiras modernas: vestindo artfully wrinkled suits, saias lápis, camisas desestruturadas e vestidos com flores desbotadas em chine. O coldre de couro com flores cortadas a laser, cruzando o ombro de uma das modelos, parecia um tributo discreto às mulheres da Resistência — entre elas, Catherine Dior. Nos pés, saltos com design de Roger Vivier; no peito, uma camiseta com a frase de Piaf: “Je ne regrette rien.”– eu não me arrependendo de nada.

No fim, a mensagem era clara: Chiuri continua a reconstruir o passado da maison para projetar um futuro mais leve, mais livre e mais feminino. E sob o olhar silencioso das Valquírias de Vasconcelos, cada passo era um lembrete: não há armadura mais poderosa do que ser mulher — em toda sua complexidade e beleza.

Foto: Reprodução WWD

8. Índia pre- fall 2023– Uma Colaboração, Não Uma Apropriação
Em 2023, Chiuri homenageou a Índia não como uma forma de apropriação cultural, mas com respeito, parceria e intimidade. Há três décadas, ela trabalha com bordadeiras indianas. Na Dior, aprofundou essa relação através da Chanakya School of Craft, que oferece emprego e dignidade a mulheres em um setor tradicionalmente masculino.

A coleção refletia essa troca viva: silhuetas inspiradas em saris e túnicas, peças desmontáveis, roupas leves, bordados espelhados e prints vibrantes. Mais do que exótico, era íntimo, moderno e usável. Um “Bollywood moment” em um casaco bordado dizia em hindi: “Somos fortes juntas”. Um grito de solidariedade global — com arte e costura como língua comum.

Foto: Reprodução WWD

9. México coleção resort 2024– Realismo Mágico e Frida Kahlo como Arquétipo
Na coleção Resort 2024, apresentada no pátio do Colegio de San Ildefonso na Cidade do México, Chiuri celebrou as formas ancestrais do vestir: quadrados, círculos, retângulos — geometria como linguagem universal. O huipil das mulheres zapotecas e a força de Frida Kahlo foram centrais.

Frida era símbolo, corpo e bandeira. As peças traziam rendas exuberantes, florais mexicanos, borboletas (metamorfose e espiritualidade), e o compromisso com comunidades locais. Chiuri trabalhou com artesãos como Hilan Cruz Cruz e Remigio Mestas, resgatando saberes e ativando territórios com beleza.

Foi, talvez, sua coleção mais pessoal. Ao viajar para longe, encontrou a si mesma.

Foto: Reprodução WWD

10. A reinvenção do clássico, no retorno de “J’Adore Dior” coleção outono 2025

Inspirada no romance de Virginia Woolf, Orlando, Maria Grazia Chiuri mergulhou na história do vestuário como expressão de transformação, identidade e liberdade. A coleção trouxe elementos que atravessavam séculos — de gibões isabelinos a jaquetas medievais reinterpretadas — em uma proposta surpreendentemente moderna e usável. Em vez de seguir à risca os códigos da Dior, Chiuri preferiu subvertê-los com humor e inteligência: corsets destacáveis, veludos desfiados, parkas utilitárias com estampas de tapeçarias antigas e alfaiataria genderless. O cenário, assinado por Robert Wilson, adicionava uma camada teatral, enquanto os tecidos — leves, tecnológicos, muitas vezes apenas parecendo pesados — mostravam o domínio técnico e o olhar vanguardista da diretora criativa. Uma coleção que celebrou o tempo, a metamorfose e a liberdade de ser.

 

Foto: Reprodução/ Instagram/ @dior

11. Japão pre-fall 2025 – Diálogo de Elegâncias
Chiuri revisitou a admiração de Christian Dior pelo Japão — desde o vestido Tokio de 1952 até os brocados criados por ateliês de Kyoto. Inspirou-se no respeito mútuo entre culturas e em como o Japão moldou a identidade global da Dior.

Mais do que citar o passado, a designer destacou a fusão entre tradição e modernidade, e como esse diálogo cultural foi (e segue sendo) crucial para o DNA da maison. Foi um tributo ao intercâmbio artístico — e à delicadeza como força.

Foto: Reprodução/ Instagram/ @dior

12. Roma Alta Costura 2025 – Um Desfile em Casa, Uma Confusão Bela
Em sua cidade natal, Maria Grazia Chiuri encerrou um ciclo com uma coleção que misturava resort e alta-costura. No jardim da Villa Albani Torlonia, convidou o público a vestir branco e homenageou a mecenas Mimi Pecci-Blunt, patrona das artes e símbolo da resistência cultural na Segunda Guerra.

A Villa Albani Torlonia, localizada em Roma, é uma das propriedades mais exclusivas e historicamente relevantes da cidade. Construída entre 1747 e 1763 para o cardeal Alessandro Albani, sob o projeto do arquiteto Carlo Marchionni, a villa foi concebida não apenas como uma residência, mas como um centro cultural e intelectual. Com jardins planejados por Giovanni Battista Nolli, esculturas clássicas selecionadas com a consultoria de Johann Joachim Winckelmann e afrescos de grandes mestres como Anton Raphael Mengs, o local se tornou ponto de encontro de intelectuais, artistas e pensadores dos séculos XVIII e XIX. Hoje, permanece uma propriedade privada da família Torlonia, com acesso extremamente restrito. Sua escolha como palco do desfile de despedida de Maria Grazia Chiuri na Dior  — foi altamente simbólica: um gesto que conecta moda, história, arte e reflexão em um mesmo espaço, cuidadosamente preservado e raramente compartilhado com o público.

Entre dançarinos romanos, referências à Commedia dell’Arte e vestidos quase etéreos, Chiuri propôs uma nova mitologia: sua. Uma armadura final, dourada e feminina, concluiu o desfile. Não era um corset, era um peitoral de centuriã — ela mesma, uma mulher de Roma marchando para o futuro.

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