Antes do C6 Fest, Wilco revela discos da vida e paixão pela música brasileira

Todos nós temos nossos discos da vida – mas quais são os discos da vida de artistas que fazem parte da nossa coleção imaginária da ilha deserta, como o Wilco? A pergunta não é fácil de responder...

May 24, 2025 - 04:55
 0
Antes do C6 Fest, Wilco revela discos da vida e paixão pela música brasileira

texto de Bruno Capelas

Todos nós temos nossos discos da vida – mas quais são os discos da vida de artistas que fazem parte da nossa coleção imaginária da ilha deserta, como o Wilco? A pergunta não é fácil de responder, mas nesta sexta-feira, 23, a banda teve de encará-la em entrevista coletiva concedida a jornalistas em São Paulo – o grupo de Chicago é um dos principais destaques da programação do domingo, 25 de maio, no C6 Fest, realizado no Parque do Ibirapuera.

“É uma das questões mais difíceis de se responder, porque eu tenho muitos discos. Não há como escolher só um disco para me descrever”, disse o guitarrista e tecladista Pat Sansone, tentando fugir da questão. “Mas qual foi o primeiro disco que você comprou? Acho que a gente não muda muito ao longo da vida”, retrucou o vocalista Jeff Tweedy, que elegeu o “Greatest Hits” dos Monkees como o seu álbum favorito. Sansone então teve que dizer que era “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” – “aquele da capa branca?”, ironizou na sequência o baterista Glenn Kotche, que elegeu os dois primeiros trabalhos do Velvet Underground (“VU and Nico”, de 1967, e “White Light/White Heat”, de 1968), bem como “Led Zeppelin III”.

Parte do Wilco desde a primeira formação, o baixista John Stirratt (que conversou com o Scream & Yell em 2020) usou o critério de Tweedy para elencar “Band on the Run”, de Paul McCartney e dos Wings. Já o multi-instrumentista Mikael Jorgensen declarou seu amor por “So”, de Peter Gabriel. “É um disco que continua sendo uma fonte de inspiração para nós, seja pelo aspecto da colaboração, pela musicalidade ou pelas texturas presentes no disco”, disse. Fechando a lista, o guitarrista Nels Cline contou que seu primeiro disco foi “Turn Turn Turn”, dos Byrds. “Sou um pouco mais velho que o resto da banda e cresci em Los Angeles nos anos 1960. Eles eram enormes. Mas devo dizer que é um disco que não me descreve tanto assim hoje”, respondeu Cline, sob protestos de Tweedy, que cochichou aos jornalistas. “Mas os Byrds são os melhores!”.

Música brasileira

Cline também foi o mais enfático dos membros do Wilco a declarar seu amor pela música brasileira – uma relação que, conta ele, começou com Egberto Gismonti, “porque ele fazia parte da gravadora ECM e tocava com muitos artistas de jazz. Depois, fui para a bossa nova, que era muito popular nos EUA quando eu era jovem, e que se tornou fascinante por conta das harmonias incríveis e do ritmo contagiante. Mas eu gosto de muitas coisas, de Lô Borges a Quarteto em Cy, Luiz Bonfá, Tom Zé. E claro, Caetano Veloso. Durante a pandemia, eu e minha esposa ouvíamos um disco de Caetano todos os dias”, contou.

Para o guitarrista, que entrou no Wilco em 2004 adicionando incríveis texturas sonoras e experimentalismo à banda, “a música brasileira é muito fascinante. Ela tem um conteúdo interessante, mas também tem uma beleza natural. É o tipo de música que faz alguém ficar feliz por estar vivo, porque é muito criativa, tem muita cor. Estou feliz demais de estar aqui porque é como se nos escutássemos, uns aos outros”, complementou.

Já seu colega Pat Sansone revelou que está à caça de um disco em especial nos próximos dias no Brasil: “Nelson Ângelo & Joyce”, de 1972. “É um disco raro, e uma das gravações mais mágicas que já ouvi”. Ele prosseguiu: “Eu amo Milton Nascimento, Caetano Veloso, Tropicália. Quando você começa a abrir as camadas, há tanta música daquele período que é impressionante. São um montão de nomes que eu nunca ouvi falar, mas que simplesmente aparecem do nada e, meu Deus, quando você vê é mais um artista brasileiro incrível. Há muita coisa.” Glenn Kotche, por sua vez, fez uma escolha mais moderna: “Estava ouvindo ‘Domenico + 2’ outro dia. É um disco que eu amo demais!”.

Setlist.

Conhecida por ser uma banda que alterna canções a cada noite, mesmo dentro de um repertório mais ou menos fixo, o Wilco também falou sobre como monta os planos para o setlist de seu quarto show da carreira no Brasil. “Acho que somos uma democracia. Eu escrevo o setlist sozinho, tentando levar em consideração as músicas que tocamos no lugar da última vez, o que as pessoas vão ficar felizes de ouvir dos nossos discos. Como banda, nós também ficamos animados com as nossas músicas mais recentes, mas queremos deixar espaço para as músicas antigas que nos representam agora. Com isso em mente, eu escrevo o setlist. Geralmente, depois temos uma espécie de conferência, em que toda a banda decide se tem algo que funcionaria melhor, uma certa ordem. Só vamos pro palco se estiver tudo OK para todos”, contou Jeff Tweedy.

Ele convidou os fãs a pedirem por suas favoritas no site da banda – uma prática longeva, mas caótica. “O que é divertido sobre o Wilco é que temos uma área no nosso site em que as pessoas podem pedir uma música. E em qualquer dia do ano, se você olhar para a lista, todas as músicas que nós já lançamos têm pelo menos um voto. Não há nenhum consenso! O que torna para nós difícil demais saber o que as pessoas querem ouvir. (risos)”, complementou o vocalista e líder do grupo.

Mas para quem chegou ao final do texto esperando uma dica do que verá no domingo, nada feito. “Acho que tem algumas [músicas que não podem ficar de fora no Brasil]. Nós viemos de tão longe, então temos que tocá-las. Mas claro que não vou dizer quais são”. Quem quiser saber, então, terá de conferir a banda ao vivo no domingo, a partir das 18h30. Vamos nessa?

PS: Na semana que vem, vale voltar aqui para ler a entrevista completa com a banda.

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.