Adeus, Decadente e Insólito. Olá, Gandaia Club e Hidden Rooftop

Há vida nova no Independente, no Miradouro de São Pedro de Alcântara. O grupo Paradigma entrou no hostel e transformou o restaurante e o terraço com o objectivo de chegar novamente aos locais.

Jun 6, 2025 - 08:15
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Adeus, Decadente e Insólito. Olá, Gandaia Club e Hidden Rooftop
Adeus, Decadente e Insólito. Olá, Gandaia Club e Hidden Rooftop

Na rua, só o menu com o novo nome bem legível à porta denuncia a mudança. O Decadente, no hostel Independente, no Miradouro de São Pedro de Alcântara, chama-se agora Gandaia Club. Em busca de uma nova vida e dos clientes de sempre, está de cara lavada. É um novo restaurante, acolhedor e boémio na mesma medida. A transformação aconteceu com a entrada do grupo Paradigma, que já soma no portfólio restaurantes como o Canalha ou o Ofício, e que aproveitou aqui para afinar a casa, sem cortar necessariamente com o passado. Na cozinha, mantém-se o chef David Vieira. No topo, e com a vista de sempre, também o Insólito renasce como The Hidden Rooftop.

David Vieira, Gandaia Club
Henrique IsidoroDavid Vieira

“O Decadente está aberto há 15 anos, já muita coisa aconteceu, já foi muita coisa. E quantos mais anos um restaurante está aberto, mais tempo há para existirem outras coisas novas. É normal que as pessoas transitem para as coisas novas, o próprio tecido da cidade está a mudar, as pessoas que vivem cá, as pessoas que frequentam”, começa por reflectir David Vieira, no Independente desde a ressaca da pandemia. “É normal que as coisas tenham que mudar. Acho que foi isso que aconteceu com o Decadente”, acrescenta.

Tempos houve em que tanto o restaurante como o terraço (numa vertente mais de bar) se destacavam na cidade, entre mudanças de menu e afinações de conceito. O que acontece agora, porém, é mais do que isso – é uma espécie de reset e também por isso a mudança de nome. “Quando o Decadente abriu recebia muitas pessoas portuguesas, estava muito presente em todos os meios sociais. Há uma preocupação em voltar a ter uma identidade portuguesa para chamar os nossos”, contextualiza o chef, ciente de que isso não se consegue apenas com uma mudança (bem notória) de visual.

Gandaia Club
Henrique Isidoro

“Um dos pedidos que fiz à Paradigma, na altura, foi que entendia este regresso às origens e percebia porque é que estava a ser feito, mas que não gostava de perder um bocadinho o fio à meada do que vinha a criar, não só com a equipa, como também com o meu percurso pessoal”, explica David, orgulhoso por apresentar hoje uma carta que é um híbrido entre aquilo que o Decandente foi e aquilo que o Gandaia pretende ser: um sítio de encontro, boa onda e boa comida. “Nós podemos mudar o chassis da máquina, mas as engrenagens já cá estão, o importante é manter as engrenagens a trabalhar, bem oleadas e felizes. Neste caso, foi óptimo terem dado esta oportunidade.”

Na carta, a grande diferença em relação ao passado está no maior número de pratos com proteína, aponta o chef, que tem em Nuno Mendes, com quem trabalhou no Bairro Alto Hotel, um mentor. “Eu tendencialmente fujo para os vegetais porque é algo que eu gosto muito de trabalhar, acho que é muito mais interessante surpreender alguém com um vegetal do que com uma proteína”, defende. “Foi um desafio tirar alguns pratos vegetais de que eu gostava muito e ter que os substituir por proteína. Isso foi sair da minha zona de conforto”, confessa, deixando claro que não há no menu nenhum prato de que não goste ou que não considere interessante. Nem mesmo o pato, servido com couve kale e especiarias (15€) e que lhe poderia suscitar algumas dúvidas ao início. “Fomos buscar mais proteínas que as pessoas pudessem identificar com a origem do Decadente”, esclarece.

A ideia é que todos os pratos possam ser partilhados à mesa, dos snacks mais pequenos como o tártaro de gamba do Algarve e nori em base de frango crocante (9€), aos ligeiramente maiores como o pato ou a tempura de vegetais em caldo de bivalves e coentros (11€), até aos mais compostos, entre os quais se destacam o arroz de cataplana, carabineiro e kombu (27€) ou o rib-eye com chimichurri e salada de pimentos vermelhos (45€).

Gandaia Club
Henrique IsidoroCouve-coração grelhada com caldo de amêndoas e citrinos

O bestseller tem sido, contudo, a couve-coração grelhada com caldo de amêndoas e citrinos (13€). “O feedback tem sido constantemente bom”, exclama. “Eu adoro a couve”, remata, rapidamente. “O que ganha o prato é o sabor fumado da couve, é a textura, é o equilíbrio entre a acidez, a cremosidade e aquele umami que as pessoas não conseguem bem definir o que é. Aquilo resultou e continua a resultar”, orgulha-se, referindo também o prato de batata doce com labneh, xarope de rosas e granola (9€). “Tem muitos componentes que não são portugueses e que não é habitual vermos servidos em conjunto nos restaurantes. Mas depois também temos um prego em bolo lêvedo dos Açores, vazia nacional, maionese de alho assado e um molho feito à base de nata, manteiga, mostarda, louro, alho [11€]. É super tradicional e as duas coisas convivem no menu”, diz David, exemplificando ainda com a sobremesa de pepino e merengue com granita de lima e baunilha (7€). 

Gandaia Club
Henrique IsidoroBatata doce com labneh, xarope de rosas e granola

A vontade de arriscar sente-se em cada conjugação de sabores inusitada, sempre condimentada. “Eu não sou muito bom a manter o equilíbrio em sabores neutros – assumo isso e gosto disso. Admiro quem o consegue fazer, tenho muitos amigos que fazem uma cozinha super equilibrada, não é das minhas preferidas, como é óbvio, e eu mesmo que tentasse não conseguiria fazer”, atesta. “Sempre que provo alguma coisa que está equilibrada digo: não, mais picante, mais acidez, mais não sei o quê. E isso acaba um bocadinho por ser a minha identidade”, resume.

Nos doces, há também uma sobremesa de chocolate com caramelo salgado e amendoim (8€), uma torta de laranja com creme de alfazema e azeite (6€) e uma tarte de limão fumado (6€). 

Gandaia Club
Henrique Isidoro

“Era importante para nós, enquanto equipa, conseguirmos continuar a trilhar caminho e também desafiarmo-nos no sentido de ter coisas um bocadinho mais nossas, mas sendo diferentes à nossa maneira. Houve aqui algumas coisas que mudaram e que estão a ser, felizmente, bem aceitas. Mas se não fossem, nós também as revíamos e íamos alterar”, descomplica David Vieira.

Para antes ou depois do jantar, impõe-se uma passagem pelo The Hidden Rooftop, que aposta numa carta de cocktails e num ambiente descontraído, com uma das melhores vistas de Lisboa.

Rua de São Pedro de Alcântara 83 (Bairro Alto). Ter-Sáb 19.00-23.00