Entre filhos e viradas profissionais: a história de Ana Claudia Plihal à frente do LinkedIn
Da tecnologia ao marketing: como a executiva conciliou maternidade e liderança, e hoje aposta no desenvolvimento de pessoas como motor de empresas

Na vontade de viver sua independência financeira, aos 17 anos, Ana Claudia Plihal escolheu a profissão: cursaria tecnologia da computação. Era o começo dos anos 1990 e aquela carreira parecia promissora. Até que veio o primeiro estágio. No programa de trainee da Unilever a virada de chave apareceu. “Descobri o encanto do marketing. Eu descobri que, na verdade, a Unilever não produz detergente em pó. Ela produz o prazer de você realizar aquela tarefa”, conta.
Ela recebia as fitas frescas do Ibope, com dados de pesquisa de mercado. E se surpreendeu ao descobrir que a marca mais cara de sabão em pó para lavar roupas era comprada pela classe D. “É o luxo que aquele pessoal pode comprar. Tem uma ciência por trás disso que envolve, desejo, pessoal, comportamento, economia. É muito legal. Ali eu me apaixonei pelo marketing”. Ana entendeu que não bastava olhar para códigos e processos. Era preciso compreender o que levava as pessoas a fazerem suas escolhas.
E lá foi ela estudar mais uma vez, enquanto como analista de sistemas de negócios na Unilever. Fez administração na Mackenzie e uma pós-graduação em marketing na ESPM. Assim, passou a construir sua transição para a área de negócios, primeiro usando sua bagagem técnica como diferencial e, depois, mergulhando definitivamente em cargos comerciais e de marketing.
Transição de carreira
Na Unilever, com quatro anos de casa, e uma experiência consolidada na área técnica, seria mais difícil fazer essa migração na carreira. Aí surgiu uma proposta da Microsoft.
“Eles precisavam entender a realidade do Brasil. Precisavam de um preço mais ajustado, de uma conversa, um posicionamento de produto com a linguagem local, com canais de distribuição locais”, lembra. “Foi quando eu fiz essa virada: saio da área de desenvolvimento, ainda usando meu conhecimento técnico para convencer meus clientes, para trabalhar com outros elementos. Ali, minha carreira foi mais para a área de mercado. Fui para a Microsoft como gerente de desenvolvimento de produto, de ferramentas de desenvolvimento.”
Ana permaneceu na companhia por 15 anos, assumindo 11 posições distintas. Migrou de marketing para canais, de canais para mercado, de mercado para vendas. “As carreiras não são mais lineares. E no Brasil, com tanta volatilidade, é preciso ter capacidade de tomar decisões com 70% da informação. Nem sempre dá tempo de esperar o 100%”, avalia. Nesse laboratório constante, desenvolveu uma visão ampla de negócio e ganhou musculatura como gestora.
A maternidade
Ali, viveu também outro sonho: a maternidade. “Foram praticamente dois bebês juntos [o primogênito e a caçula têm um ano e meio de diferença]. A maternidade me desenvolveu habilidades que me tornaram uma profissional melhor: gestão de tempo, empatia, priorização”, afirma.
O segredo para conciliar a carreira com a maternidade estava na relação saudável com o marido e uma rede de apoio sólida. “Quando engravidei, meu marido disse: ‘Aqui não é 50% para cada. É 100% de cada um’. Essa soma de 200% me deu segurança. Se surgia uma reunião e eu não podia levar um deles ao pediatra, ele ia. Não tinha crise. Era diferente de mim, mas era bom do mesmo jeito.”
Além disso, Ana Claudia admite que a posição de gerência e a idade a ajudaram a ter tranquilidade para criar os filhos. “Eu já tinha conquistado uma posição de gestão. Isso fez muita diferente. E a idade também. O peso das coisas mudam com a evolução do tempo. Já teve época em que eu dediquei 70% do meu tempo para o trabalho. Naquele momento, isso mudou. A maternidade para mim era um investimento de aprendizagem e compromisso com aquele serzinho que tava ali”, diz.
“Não tinha reunião que me segurasse no fim da tarde, quando eu precisava buscar meus filhos na escolinha. Isso fazia com que minha agenda fosse muito eficiente. E, automaticamente, as pessoas também se tornavam mais eficientes. Nesse papel de liderança, eu deixei esse legado ao meu time, às mulheres e aos homens, de mostrar que era possível conciliar carreira e maternidade.”
Crise de identidade
Os quinze anos de Microsoft confundiram a cabeça de Ana Claudia. Ela começou a se questionar se o sucesso vinha do talento dela, ou da estrutura da empresa. Buscou ajuda profissional e, com o apoio de uma coach, fez o exercício de dissociar seu valor pessoal da marca que carregava no crachá.
Esse movimento a fez enxergar outros desejos – um deles era “trabalhar em algo que trouxesse impacto visível para o Brasil”. Foi quando surgiu uma oportunidade na Cisco, que ali pelo início da segunda década dos anos 2000, estava abrindo uma fábrica aqui.
“O Rio de Janeiro já tinha sido confirmado como sede das Olimpíadas, então a Cisco abriria um centro de inovação na cidade. E o objetivo era desenvolver tecnologia que gerasse royalties para o país”, relembra. “Vivi a complexidade de produzir hardware no Brasil, com todos os entraves logísticos e regulatórios. Foi uma experiência riquíssima.”
Depois, experimentou uma breve passagem pela Schneider Electric, em um cargo prestigiado como vice-presidente para América Latina. Mas a experiência durou pouco tempo – apenas sete meses –, por conta de uma proposta irresistível: ocupar o cargo de Head no Brasil do Linkedin.
Casa nova: o Linkedin
Na época, a operação brasileira se desmembrava da América Latina e ganhava autonomia — e Ana Claudia foi chamada para liderar essa nova fase. Em setembro de 2018, ela aceitou o desafio de assumir a direção dessa nova área.
“Ser a primeira pessoa a viver essa história aqui no Brasil fez muito sentido para mim. O Linkedin sempre teve um escritório em São Paulo, mas o Brasil cresceu tanto que se fez necessário separá-lo do resto da América Latina. E o Linkedin é a empresa onde eu consigo materializar o impacto que a tecnologia traz para as pessoas. Em eventos, sempre escuto histórias sobre como o Linkedin abriu portas profissionais para as pessoas”, afirma. “Hoje, somos a terceira maior subsidiária do LinkedIn no mundo em número de membros. Mais do que isso, a gente tem um nível de engajamento e participação na plataforma muito peculiar, o brasileiro gosta de rede social.”
É o time dela que desenvolve produtos e faz o Linkedin ganhar dinheiro no Brasil, com soluções para quem busca emprego, ou recolocação no mercado, e para as empresas que buscam novos profissionais. “Nós criamos ferramentas, que é a parte paga, com licenças para uso. Por exemplo, uma das nossas ferramentas avalia a base de dados de usuários do Linkedin e encontra uma jornalista com a especialidade e experiência que determinada empresa busca. Tem também o People Analytics que entende em qual região do país há mais profissionais experientes para determinado tipo de empresa. Outra que ajuda um profissional que, assim como eu, quer mudar de área – a ferramenta avalia quais competências você precisa desenvolver para alcançar seu objetivo.”
O novo equilíbrio de vida e carreira
Se o início da carreira foi movido pelo desejo de independência e por jornadas longas, hoje Ana Claudia vive uma relação bem mais equilibrada com o trabalho. “Já houve fases em que o trabalho ocupava 70% do meu tempo. Hoje, eu trabalho para viver — e justamente por isso, o tempo que dedico ao trabalho tem ainda mais qualidade”, diz
Esse novo olhar também vem do contato com as gerações mais jovens dentro do LinkedIn. “A geração Z tem me ensinado muito. Eles têm um entendimento claro de propósito e de equilíbrio. É um aprendizado diário para mim, inclusive como líder.”
Mas a realidade para muitas mulheres ainda é distante desse cenário. Recentemente, o próprio LinkedIn produziu uma pesquisa mostrando que as mulheres são 10 vezes mais propensas do que os homens a pausar a carreira para cuidar dos filhos. O dado serviu como ponto de partida para uma campanha especial da plataforma, que trouxe a maternidade para o centro da conversa sobre o mercado de trabalho e a carreira das mulheres.
“Sempre conversamos muito sobre maternidade aqui. A empresa sempre está com as portas abertas para nossos filhos. Então, é um tema comum. Eu me reconheci e revivi coisas com essa pesquisa”, diz.
Mesmo em um momento profissional estável e sólido, Ana Claudia mantém a inquietação que sempre a moveu. Hoje, seu foco está em ajudar empresas a enxergarem o desenvolvimento de pessoas como ativo estratégico. “Estou muito dedicada a provocar essa mudança de chave, de modelo mental. A inovação está nas pessoas. A gente precisa acordar para isso agora”, defende. “Habilidades você precisam ser desenvolvidas, você precisa dar a chance para a pessoa experimentar, implementar.”
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