10 Considerações sobre A presa de Sharpe, de Bernard Cornwell ou saiba que seu pecado irá encontrá-lo

O Blog Listas Literárias leu A Presa de Sharpe, de Bernard Cornwell publicado pela editora Record; Neste post você confere as considerações de Douglas Eralldo sobre o livro pertencente a série que narra As Aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas, confira:1 - Antes de mais nada, é preciso destacar que A presa de Sharpe é um dos romances integrantes da série As aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas, a qual reúne uma grande diversidades de romances e também contos. No caso deste romance, a obra foi publicada originalmente em 2001, sendo um dos últimos publicados na série. Além disso, nossa análise aqui versa apenas sobre este livro, já que consideramos importante destacar que não lemos (ainda) outras obras desse universo literário;2 - Dito isso - e destacando que é tranquilo ler a obra isoladamente da série -, podemos partir para a análise deste romance histórico cuja marca essencial, certamente, é a descrititividade da ação, como se o narrador "desenhasse" as cenas diante o leitor, inclusive com alguns slows e close-ups. Significa dizer, portanto, que é uma narrativa que prima pelo movimento de seu protagonista, movimentos que o narrador ou acelera ou segura, de modo a entregar lutas e batalhas em seus mais específicos detalhes;3 -  Nesse romance o soldado Richard Sharpe - que no romance nos traz pela memória lembranças de outras aventuras - estará no meio de uma ação, conforme nota do autor, ainda obscura na História oficial, episódio em que a Inglaterra invade a Dinamarca para tomar sua esquadra em 1807. Ao melhor modo policial noir, o soldado Sharpe em muitos momentos mais lembrará um espião, ainda que sua condição de soldado seja sempre uma espécie de loop do qual ele não consegue sair. Carregando uma grande perda, com a mente carregada de vinganças, é sua parte assassina que recorrentemente é chamada à ação - e ele é bom nisso - de modo que o soldado sempre se sobressairá ao espião;4 - Todavia, ainda que romance histórico e centrado nos conflitos e na guerra, a obra carrega os ares de thriller de espionagem tamanhas as reviravoltas e o amplo jogo de traições que acaba ocorrendo com Sharpe no decorrer da narrativa. O que não falta é vai e volta na movimentação da trama, uma ação constante e sempre impregnada pelos fantasmas do passado do protagonista, alguém que por vezes adentra a autocomiseração quando os seus próprios "pecados" lhe confrontam;5 - Além disso, a narrativa além de trazer o contexto histórico segundo Cornwell sob as brumas do esquecimento - um esquecimento conveniente da Grã-Bretanha, claro - demosntra os intrincados caminhos da diplomacia que anda com seus passos lentos perante as ações da guerra. Pressionada pela França e pela Inglaterra, a Dinamarca, então, vê-se sob o desejo dessas duas forças de modo que sua tentativa de manter-se neutra cai por terra. A partir desse contexto histórico, Cornwell narra sob sua visão, o atroz ataque a Copenhague pelas forças britânicas com ataques que causaram centenas de mortes;6 - Inicialmente Sharpe estaria numa missão cuja tentativa era evitar o ataque, que inevitavelmente aconteceria. Aliás, nesse sentido, o fracasso de Sharpe é o caminho para que o narrador de Cornwell possa narrar os acontecimentos da Batalha de Copenhage, e isso é feito com bastante eficiência, diga-se. O soldado-espião adentra então à cidade e lá constroi relações com moradores da cidade, o que lhe coloca em situação de conflitos pessoais muito fortes. Além disso, enquanto desempenha sua trama e jornada pessoal, Sharpe por meio de sua "existência" permite que acompanhemos os três dias de intensos ataques que resultaram na vitória de Arthur Weslelley;7 - Logicamente temos a primazia da romanceazão sobre os fatos históricos, contudo, Cornwell consegue manter boa parte da unidade histórica pela qual faz seu protanogista "passear". Ao menos nesse livro, pelo menos, Sharpe não deixa de trazer algumas inflexões sobre o comportamento invasor de seu próprio exército, inflexões tímidas, bem verdade, mas de algum modo surgem ainda que não a um ponto de ruptura, porque ao cabo, Sharpe é o soldado de sempre;8 - Aliás, se por um lado o autor, como apresenta em sua nota, busca retratar uma passagem da História guardada às sombras pelos ingleses, escondendo uma vitória militar, mas que ao cabo, não deixa de ser vergonhoso - como é toda e qualquer ação colonial -, por outro lado, ao revestir o agente do império inglês de traços heróicos e naturalizando sua essência "tugue", de assassino, há na concepção primária certa aceitação aos meios e modos por quais move-se o poder;9 - Somando-se tais fatores, temos então um livro atraente, marcado pela velocidade não só dos acontecimentos, mas também pela fluidez da linguagem que nos convida ler linha após linha com bastante voracidade, já que é destes livros que nos envolvem numa leitura rápida e que, no mínimo, nos apresentam a um contextos histórico que por diferentes razões deve ser recordado. Além disso, o título da tradução nos

Jun 7, 2025 - 01:35
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10 Considerações sobre A presa de Sharpe, de Bernard Cornwell ou saiba que seu pecado irá encontrá-lo

O Blog Listas Literárias leu A Presa de Sharpe, de Bernard Cornwell publicado pela editora Record; Neste post você confere as considerações de Douglas Eralldo sobre o livro pertencente a série que narra As Aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas, confira:


1 - Antes de mais nada, é preciso destacar que A presa de Sharpe é um dos romances integrantes da série As aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas, a qual reúne uma grande diversidades de romances e também contos. No caso deste romance, a obra foi publicada originalmente em 2001, sendo um dos últimos publicados na série. Além disso, nossa análise aqui versa apenas sobre este livro, já que consideramos importante destacar que não lemos (ainda) outras obras desse universo literário;

2 - Dito isso - e destacando que é tranquilo ler a obra isoladamente da série -, podemos partir para a análise deste romance histórico cuja marca essencial, certamente, é a descrititividade da ação, como se o narrador "desenhasse" as cenas diante o leitor, inclusive com alguns slows e close-ups. Significa dizer, portanto, que é uma narrativa que prima pelo movimento de seu protagonista, movimentos que o narrador ou acelera ou segura, de modo a entregar lutas e batalhas em seus mais específicos detalhes;

3 -  Nesse romance o soldado Richard Sharpe - que no romance nos traz pela memória lembranças de outras aventuras - estará no meio de uma ação, conforme nota do autor, ainda obscura na História oficial, episódio em que a Inglaterra invade a Dinamarca para tomar sua esquadra em 1807. Ao melhor modo policial noir, o soldado Sharpe em muitos momentos mais lembrará um espião, ainda que sua condição de soldado seja sempre uma espécie de loop do qual ele não consegue sair. Carregando uma grande perda, com a mente carregada de vinganças, é sua parte assassina que recorrentemente é chamada à ação - e ele é bom nisso - de modo que o soldado sempre se sobressairá ao espião;

4 - Todavia, ainda que romance histórico e centrado nos conflitos e na guerra, a obra carrega os ares de thriller de espionagem tamanhas as reviravoltas e o amplo jogo de traições que acaba ocorrendo com Sharpe no decorrer da narrativa. O que não falta é vai e volta na movimentação da trama, uma ação constante e sempre impregnada pelos fantasmas do passado do protagonista, alguém que por vezes adentra a autocomiseração quando os seus próprios "pecados" lhe confrontam;

5 - Além disso, a narrativa além de trazer o contexto histórico segundo Cornwell sob as brumas do esquecimento - um esquecimento conveniente da Grã-Bretanha, claro - demosntra os intrincados caminhos da diplomacia que anda com seus passos lentos perante as ações da guerra. Pressionada pela França e pela Inglaterra, a Dinamarca, então, vê-se sob o desejo dessas duas forças de modo que sua tentativa de manter-se neutra cai por terra. A partir desse contexto histórico, Cornwell narra sob sua visão, o atroz ataque a Copenhague pelas forças britânicas com ataques que causaram centenas de mortes;

6 - Inicialmente Sharpe estaria numa missão cuja tentativa era evitar o ataque, que inevitavelmente aconteceria. Aliás, nesse sentido, o fracasso de Sharpe é o caminho para que o narrador de Cornwell possa narrar os acontecimentos da Batalha de Copenhage, e isso é feito com bastante eficiência, diga-se. O soldado-espião adentra então à cidade e lá constroi relações com moradores da cidade, o que lhe coloca em situação de conflitos pessoais muito fortes. Além disso, enquanto desempenha sua trama e jornada pessoal, Sharpe por meio de sua "existência" permite que acompanhemos os três dias de intensos ataques que resultaram na vitória de Arthur Weslelley;

7 - Logicamente temos a primazia da romanceazão sobre os fatos históricos, contudo, Cornwell consegue manter boa parte da unidade histórica pela qual faz seu protanogista "passear". Ao menos nesse livro, pelo menos, Sharpe não deixa de trazer algumas inflexões sobre o comportamento invasor de seu próprio exército, inflexões tímidas, bem verdade, mas de algum modo surgem ainda que não a um ponto de ruptura, porque ao cabo, Sharpe é o soldado de sempre;

8 - Aliás, se por um lado o autor, como apresenta em sua nota, busca retratar uma passagem da História guardada às sombras pelos ingleses, escondendo uma vitória militar, mas que ao cabo, não deixa de ser vergonhoso - como é toda e qualquer ação colonial -, por outro lado, ao revestir o agente do império inglês de traços heróicos e naturalizando sua essência "tugue", de assassino, há na concepção primária certa aceitação aos meios e modos por quais move-se o poder;

9 - Somando-se tais fatores, temos então um livro atraente, marcado pela velocidade não só dos acontecimentos, mas também pela fluidez da linguagem que nos convida ler linha após linha com bastante voracidade, já que é destes livros que nos envolvem numa leitura rápida e que, no mínimo, nos apresentam a um contextos histórico que por diferentes razões deve ser recordado. Além disso, o título da tradução nos reforça a lembrança de que em última - na verdade primeira - instância o que move uma guerra são suas presas, o butim dos ataques, é "business";

10 - Enfim, A presa de Sharpe é uma narrativa vertiginosa, mas que não perde o caráter descritivo da ação que por vezes nos leva a detalhes como se fosse uma grande câmera em close-up e slowmotion. Para quem curte ficção com narrativa histórica é uma ótima pedida, e tudo isso sem os clickbait de um Ken Follet que de tempos em tempos precisa usar do cardsex em suas romances históricos.

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