Caça-trabalhos através de influência digital
O que acredito que realmente conecta pessoas no mercado de design — e por que a influência digital pode não ser o único caminho.Foto de Philip Oroni.Li recentemente um texto do Rafael Frota intitulado “Se tornando ‘influencer’ para conseguir uma vaga”, no qual ele levanta uma questão que muitas pessoas da nossa área já devem ter se feito:Vale a pena tentar ganhar visibilidade no LinkedIn virando uma espécie de “influencer” de design para buscar recolocação profissional?Como designer que já passou por altos e baixos na carreira, achei interessante refletir sobre o tema e abrir algumas perspectivas.Nos últimos meses, mentorei vários designers em transição de carreira ou em busca de recolocação.Nessas conversas, notei que quase todo mundo está cogitando (ou já tentando) virar “criador de conteúdo” no LinkedIn.Frequentemente escuto:“Se eu postar dicas de UX, cases de design ou reflexões diariamente, mais gente vai me ver. Assim, terei mais chance de ser notado por recrutadores e, quem sabe, conquistar uma nova oportunidade de emprego.”É verdade que posts frequentes podem trazer curtidas, comentários, compartilhamentos e seguidores. Alguns perfis realmente ganham visibilidade e certa “autoridade” (não necessariamente competência em design), por estarem constantemente presentes na plataforma.A ideia é tentadora — quem não gosta de ver suas postagens bombando ou sendo reconhecidas na comunidade? — mas, conforme fui ouvindo mais mentorados, passei a questionar alguns pontos dessa estratégia, especialmente quando ela se torna quase obrigatória na busca por emprego.“Quem não é visto, não é lembrado”. Será mesmo?Primeiro, vamos esclarecer: não há nada de errado em se promover.Divulgar conquistas, compartilhar aprendizados e se posicionar na comunidade são ações saudáveis. Entretanto, criar conteúdo de forma incessante, tentando vencer o algoritmo das redes sociais, pode não ser tão eficaz quanto parece.CompetiçãoImagine uma rede com 1000 designers, onde cerca de 15% postam diariamente. São aproximadamente 150 posts só sobre design, todos os dias. Eu, particularmente, não conseguiria ler 150 posts no LinkedIn com atenção — imagina então uma pessoa recrutadora, que já tem mais de 1000 currículos para revisar e tarefas internas para cumprir?Arrisco dizer que menos de 1% dos posts geram relevância suficiente para captar a atenção de um recrutador ou colega de profissão.E talvez um ou dois consigam fazê-lo pensar: “essa pessoa parece um bom candidato para a vaga que tenho”.Qualidade e autenticidadeCriar conteúdo relevante e original é difícil. Especialmente no início. Requer tempo, revisão e muita tentativa e erro.Muitos designers começam com citações motivacionais, dicas genéricas ou reflexões superficiais por parecerem mais seguras e rápidas de produzir. Isso gera uma repetição constante, um engajamento superficial. Curtidas aparecem, comentários também, mas será que há real valor para quem lê?Quem interage com seu post está interessado em você e sua visão, ou apenas em mais uma publicação sobre um tema popular?Propósito do conteúdoOutro ponto essencial é refletir sobre quanto criar conteúdo realmente te preenche. Nem todo mundo gosta desse processo — escrever posts, threads, gravar vídeos é desgastante. Se criar conteúdo te diverte, traz satisfação ou aprendizado, excelente. Mas se não há diversão nem retorno pessoal, talvez valha repensar.Conheço designers excelentes que tentaram manter rotinas intensas de publicação e acabaram frustrados. Muitas vezes, essas pessoas medem sucesso usando métricas de redes sociais ou objetivos externos (como conquistar um emprego), esquecendo do propósito próprio por trás da criação. Quem já estudou motivação sabe: recompensas externas têm validade curta.Foto de Priscilla Du Preez.Alternativas possíveisLembre-se do propósito original do LinkedIn: criar conexões.Curtidas e impressões são chamativas, mas as melhores oportunidades vêm de interações genuínas, trocas reais entre pessoas. Aliás, já fazíamos isso bem antes das redes sociais existirem.Converse com colegas e ex-colegasAquele amigo da faculdade ou ex-chefe que você não vê há tempos pode abrir portas naturalmente numa simples conversa.Para mim, isso funcionou quando quis migrar para fora do Brasil — um colega me ajudou, me recomendando para uma vaga na Runtastic como UX Researcher. Embora eu tenha optado por outra oportunidade, foi graças a ele que tive mais uma opção de escolha.Participe de eventos e meetupsMesmo tímido, vale tentar. Workshops, encontros de UX, ou mesmo eventos fora da sua área podem gerar conexões valiosas e inesperadas.Recentemente apresentei como uma estrutura de Product Trio muito enrijecida pode contribuir para um ambiente ineficaz de trabalho e isso me trouxe a oportunidade de facilitar um workshop de service design e uma proposta de emprego como product.Explore conexões internas ou anterioresNo meu caso, conversar com colegas de outras equipes em empregos anteriores trouxe projetos novos e oportunid
O que acredito que realmente conecta pessoas no mercado de design — e por que a influência digital pode não ser o único caminho.
Li recentemente um texto do Rafael Frota intitulado “Se tornando ‘influencer’ para conseguir uma vaga”, no qual ele levanta uma questão que muitas pessoas da nossa área já devem ter se feito:
Vale a pena tentar ganhar visibilidade no LinkedIn virando uma espécie de “influencer” de design para buscar recolocação profissional?
Como designer que já passou por altos e baixos na carreira, achei interessante refletir sobre o tema e abrir algumas perspectivas.
Nos últimos meses, mentorei vários designers em transição de carreira ou em busca de recolocação.
Nessas conversas, notei que quase todo mundo está cogitando (ou já tentando) virar “criador de conteúdo” no LinkedIn.
Frequentemente escuto:
“Se eu postar dicas de UX, cases de design ou reflexões diariamente, mais gente vai me ver. Assim, terei mais chance de ser notado por recrutadores e, quem sabe, conquistar uma nova oportunidade de emprego.”
É verdade que posts frequentes podem trazer curtidas, comentários, compartilhamentos e seguidores. Alguns perfis realmente ganham visibilidade e certa “autoridade” (não necessariamente competência em design), por estarem constantemente presentes na plataforma.
A ideia é tentadora — quem não gosta de ver suas postagens bombando ou sendo reconhecidas na comunidade? — mas, conforme fui ouvindo mais mentorados, passei a questionar alguns pontos dessa estratégia, especialmente quando ela se torna quase obrigatória na busca por emprego.
“Quem não é visto, não é lembrado”. Será mesmo?
Primeiro, vamos esclarecer: não há nada de errado em se promover.
Divulgar conquistas, compartilhar aprendizados e se posicionar na comunidade são ações saudáveis. Entretanto, criar conteúdo de forma incessante, tentando vencer o algoritmo das redes sociais, pode não ser tão eficaz quanto parece.
Competição
Imagine uma rede com 1000 designers, onde cerca de 15% postam diariamente. São aproximadamente 150 posts só sobre design, todos os dias. Eu, particularmente, não conseguiria ler 150 posts no LinkedIn com atenção — imagina então uma pessoa recrutadora, que já tem mais de 1000 currículos para revisar e tarefas internas para cumprir?
Arrisco dizer que menos de 1% dos posts geram relevância suficiente para captar a atenção de um recrutador ou colega de profissão.
E talvez um ou dois consigam fazê-lo pensar: “essa pessoa parece um bom candidato para a vaga que tenho”.
Qualidade e autenticidade
Criar conteúdo relevante e original é difícil. Especialmente no início. Requer tempo, revisão e muita tentativa e erro.
Muitos designers começam com citações motivacionais, dicas genéricas ou reflexões superficiais por parecerem mais seguras e rápidas de produzir. Isso gera uma repetição constante, um engajamento superficial. Curtidas aparecem, comentários também, mas será que há real valor para quem lê?
Quem interage com seu post está interessado em você e sua visão, ou apenas em mais uma publicação sobre um tema popular?
Propósito do conteúdo
Outro ponto essencial é refletir sobre quanto criar conteúdo realmente te preenche. Nem todo mundo gosta desse processo — escrever posts, threads, gravar vídeos é desgastante. Se criar conteúdo te diverte, traz satisfação ou aprendizado, excelente. Mas se não há diversão nem retorno pessoal, talvez valha repensar.
Conheço designers excelentes que tentaram manter rotinas intensas de publicação e acabaram frustrados. Muitas vezes, essas pessoas medem sucesso usando métricas de redes sociais ou objetivos externos (como conquistar um emprego), esquecendo do propósito próprio por trás da criação. Quem já estudou motivação sabe: recompensas externas têm validade curta.
Alternativas possíveis
Lembre-se do propósito original do LinkedIn: criar conexões.
Curtidas e impressões são chamativas, mas as melhores oportunidades vêm de interações genuínas, trocas reais entre pessoas. Aliás, já fazíamos isso bem antes das redes sociais existirem.
Converse com colegas e ex-colegas
Aquele amigo da faculdade ou ex-chefe que você não vê há tempos pode abrir portas naturalmente numa simples conversa.
Para mim, isso funcionou quando quis migrar para fora do Brasil — um colega me ajudou, me recomendando para uma vaga na Runtastic como UX Researcher. Embora eu tenha optado por outra oportunidade, foi graças a ele que tive mais uma opção de escolha.
Participe de eventos e meetups
Mesmo tímido, vale tentar. Workshops, encontros de UX, ou mesmo eventos fora da sua área podem gerar conexões valiosas e inesperadas.
Recentemente apresentei como uma estrutura de Product Trio muito enrijecida pode contribuir para um ambiente ineficaz de trabalho e isso me trouxe a oportunidade de facilitar um workshop de service design e uma proposta de emprego como product.
Explore conexões internas ou anteriores
No meu caso, conversar com colegas de outras equipes em empregos anteriores trouxe projetos novos e oportunidades futuras.
Uma das mais importantes para mim foi criar um programa de intra-empreendedorismo na Rumo Logística, e isso veio de uma conversa de café com um coordenador de operações de movimento de carga (já imaginou conversar sobre design com alguém assim?). Bastou curiosidade genuína pelas pessoas e pelo trabalho delas.
Essas alternativas podem não gerar centenas de likes, mas criam algo melhor: relacionamentos reais.
Um café pode gerar uma indicação, um encontro informal pode render uma parceria futura, uma colaboração num projeto pode aumentar seu reconhecimento no mercado. Tudo isso sem depender do humor do algoritmo.
Qual o seu caminho?
Não estou dizendo que criar conteúdo no LinkedIn é errado — se isso te empolga e traz resultados, mergulhe fundo! Cada trajetória é única, e o que funciona para uns pode não funcionar para outros.
Minha proposta aqui é simples:
Reflita sobre suas estratégias para criar conexões genuínas, sem acreditar que apenas o digital é o único caminho possível.
Se você ainda não tem certeza sobre como criar essas conexões, não tenha medo de explorar diferentes caminhos — você pode se surpreender com o resultado.
Mais do que ferramentas ou números, são conversas reais e conexões sinceras que geram as melhores oportunidades.
Caça-trabalhos através de influência digital was originally published in UX Collective