Refugee Week: o festival que celebra a diversidade trazida pelos migrantes chega a Lisboa

Piqueniques, concertos, cinema, oficinas, poesia e outras ideias ainda por surgir vão preencher a semana de 16 a 22 de Junho. A Refugee Week acontece em Lisboa, Leiria, Porto e Covilhã.

Jun 5, 2025 - 14:45
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Refugee Week: o festival que celebra a diversidade trazida pelos migrantes chega a Lisboa
Refugee Week: o festival que celebra a diversidade trazida pelos migrantes chega a Lisboa

Dois artistas MoYah, rapper, forçado a fugir da guerra civil no país onde nasceu, Moçambique, e Carlota Matos, das artes performativas, portuguesa conheceram-se no Reino Unido, país-berço da Refugee Week, o festival fundado em 1998 e que se tornou no maior do mundo com o objectivo de celebrar "o contributo, a criatividade e a resiliência dos refugiados e pessoas que procuram asilo".

O tempo passou e, depois de terem começado a trabalhar juntos, surgiram a necessidade e a ideia. “Neste tempo em que a imigração é um assunto tão falado, começámos a perceber que, apesar de haver muito trabalho interessante e relevante em Portugal feito por comunidades migrantes, as pessoas não sabem umas das outras, as associações não comunicam assim tanto entre elas, não se conhecem”, conta a performer Carlota Matos. A dupla decidiu, então, trazer a Refugee Week para Portugal, com o objectivo de “ligar pessoas, artistas, associações e centros culturais”. Não pesa menos “a situação política e social” da actualidade, marcada pela insuficiência da resposta aos migrantes que todos os anos chegam a Portugal. “É preciso que as comunidades se conheçam”, insiste a organizadora, defendendo esse como o primeiro passo para uma melhor integração.

Refugee Week no Reino Unido, em 2018
Marcia ChandraRefugee Week no Reino Unido, em 2018

A arte e a comida foram, assim, os melhores meios que os organizadores encontraram para “juntar pessoas e quebrar estereótipos”, “sempre na óptica de celebrar”. “Quando se vêem tantas coisas negativas relativamente a comunidades migrantes, é preciso investir no movimento contrário, de celebrar o seu contributo”, defende Carlota Matos, ao que MoYah, que foi refugiado em Portugal, acrescenta: “Como alguém que sentiu na pele o racismo e o preconceito, é uma honra trabalhar num festival de artes que tem como objectivo quebrar barreiras, desconstruir ideias erradas sobre pessoas migrantes em Portugal, e aproximar todas as nossas comunidades."

Caligrafia e concertos

Na prática, a versão portuguesa do festival, que terá como bases Lisboa, Porto, Leiria e Covilhã, vai compor-se de um pacote aberto de eventos, que poderão ir desde um concerto ao ar livre até um piquenique ou um jogo de futebol. Na Covilhã, por exemplo, uma família síria vai plantar uma oliveira, dar uma aula de caligrafia e, como alguns elementos escrevem poesia, “também estão a pensar em partilhar alguns poemas”. “É um festival muito aberto. Qualquer pessoa pode fazer um evento, desde passar um filme a levar comida aos vizinhos", conta Carlota Matos.

Refugee Week no Reino Unido, em 2022
DRRefugee Week no Reino Unido, em 2022

O “evento âncora” será um piquenique comunitário, no sábado, 21 de Junho, entre as 12.00 e as 15.00, nos Jardins do Bombarda, que vai contar com as actuações de quatro artistas, cujos nomes serão divulgados em breve. Para já fica a saber-se que são todos músicos (do folk ao hip-hop), com origem no Bangladesh, na Argélia e no Zimbabué. “Tragam comida, jogos, mantas e juntem-se”, convida a co-fundadora. 

Até ao último dia do festival, 22 de Junho, é possível propor eventos, que entram na base de dados da Refugee Week com o fim de serem avaliados pela organização. “Aceitamos até ao último dia, desde que respeitem os nossos valores”, explica a co-fundadora. Até ao momento da conversa com a Time Out, 28 eventos estavam confirmados e uma rede de “mais de 60 contactos” estabelecida, nas quatro cidades. A grande maioria é de entrada livre. Em Lisboa, vão decorrer em locais como os Jardins do Bombarda, a loja social Dona Ajuda (no Rato), a sede da organização de apoio a refugiados Lisbon Project ou o bar Má Língua, na Graça. 

O Dia Mundial do Refugiado é celebrado, desde 2001, a 20 de Junho. No ano passado, a Refugee Week do Reino Unido contou com mais de 1,6 milhões de pessoas nos mais de 15 mil eventos do festival, sendo que, a nível global, o movimento está presente em mais de 15 países.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 120 milhões de pessoas vivem deslocadas dos seus países, na sequência de perseguições, conflitos, violência e outras violações dos direitos humanos. Desde a abertura do primeiro centro do Conselho Português para os Refugiados, em 1999, o organismo terá acolhido perto de 14.500 pessoas de dezenas de países. Em 2024, foram registados 2273 pedidos de asilo em Portugal.